50 anos do 1º de maio em liberdade

A Aurora do Lima
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Maio, dia do trabalhador em todo o mundo, era aguardado com expectativa e ansiedade para se saber da reação do povo português à liberdade. O que aconteceu nesse dia foi o que toda a gente sabe. O povo saiu em massa para a rua a dar o seu sim à revolução do 25 de Abril. O dia do trabalhador remonta ao ano de 1886 e transporta-nos para o dia 1 de Maio na cidade de Chicago nos EUA, onde irrompeu uma desproporcionada carga policial sobre operários que reivindicavam melhores condições de trabalho, dai resultando inúmeras prisões e mortes. Contudo, foram alcançados alguns direitos e regalias, ficando essa data, mais tarde, consagrada como dia do trabalhador, hoje comemorado, praticamente à escala mundial.

Em Portugal sempre se comemorou o 1° de Maio, porque, como diz o poeta, “há sempre alguém que resiste e há sempre alguém que diz não”. Mesmo antes do 25 de Abril, apesar da violência e da repressão, houve quem o comemorasse. Nos primeiros anos da liberdade, as comemorações do dia do trabalhador foram de luta e de festa. Contudo, com o evoluir do tempo, as comemorações foram perdendo força; apesar de, em muitos anos, ainda se registarem ações que, pela capacidade de mobilização, tiveram efeitos significativos na defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores, abanando mesmo o poder instituído e contribuindo significativamente para a sua queda.

A história do 1° de Maio e da luta dos trabalhadores portugueses é muito rica nestes 50 anos de liberdade. Ainda há muito por fazer, se há! Muita coisa não foi cumprida e, hoje em dia, o povo português poderia e deveria viver melhor. Por isso, a luta por melhores condições de vida e de trabalho não pode abrandar, pelo contrário, e, ao que temos assistido, não restam dúvidas para ninguém. As pessoas estão cansadas de ver a distribuição da riqueza criada a ser injustamente distribuída. É preciso valorizar o trabalho, criar carreiras profissionais mais justas e motivadoras, melhores salários e ajustadas condições de trabalho. Não podemos é ser levados por caminhos ínvios, porque estamos a virar para o lado dos nossos inimigos. O que aconteceu nas últimas eleições mais não foi do que um gravíssimo tiro nos pés que muitos trabalhadores deram. Votar no inimigo, francamente… As manifestações do 25 de Abril e 1° de Maio deste ano parece terem dado sinal de que os democratas acordaram ou estão a acordar. A mobilização popular, este ano, foi poderosa. E não só porque se comemoram os 50 anos da revolução, mas porque alguma coisa mexeu mais fundo com as pessoas, e isso ficou bem à vista. É preciso acreditar que é possível um Portugal melhor, com melhores salários e pensões, com 35 horas semanais e sem vínculos precários. Neste contexto, os sindicatos devem ter participação ativa na construção de um país mais justo. Aos sindicatos e aos trabalhadores em geral cabe, em grande parte, a responsabilidade de combater todos aqueles que querem fazer recuar o país ao tempo da ditadura. Aos sindicatos, e não só, compete denunciar veementemente os movimentos inorgânicos que se infiltram no seio dos trabalhadores e das forças de segurança para, na base de reivindicações, por vezes justas, lançarem o caos no seio das instituições e no país, obedecendo a forças e interesses obscuros.

Aos sindicatos, como organizações de classe, cabe o papel fundamental de denunciar os oportunistas e todos aqueles que, afirmando combater a corrupção e os tachos, outra coisa mais não fazem que o seu contrário, como se constata pelo deputado eleito pelo partido que gosta muito do tempo de antes do 25 de Abril, eleito no distrito de Viana do Castelo.

Carlos Lourenço

Ex dirigente sindical da USVC CGTP-IN

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