A Europa (sempre) na encruzilhada?

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José Maria Costa

Participei, recentemente, no debate que a associação vianense N-Cooltura organizou, em Barroselas, em torno do tema “Europa (sempre) na encruzilhada”. Efetivamente, se olharmos hoje para o panorama europeu, a Europa parece viver numa encruzilhada, mas importa salientar que a UE é um projeto que tem de continuar. Apesar das dificuldades que o Brexit vai, naturalmente, colocar às instâncias europeias e ao relacionamento dentro da própria comunidade, há uma questão fundamental que não podemos descurar: sem a União Europeia nós não teríamos 60 anos de paz, como os últimos que vivemos na Europa. Na minha opinião, este é um valor que não se pode deixar de referenciar, pois graças a esta cooperação entre Estados, conseguiu-se o maior período de estabilidade, de paz e, simultaneamente, de crescimento da Europa, o que nunca tinha acontecido anteriormente.

Outro ponto que é importante referenciar é que sem a UE, não haveria um dos projetos mais bem conseguidos, que é o do intercâmbio de jovens estudantes por toda a Europa. Graças ao projeto Erasmus, os jovens europeus assimilam a cidadania europeia e crescem numa realidade de aproximação entre os povos e eliminação das barreias naturais de idiomas, raças e religiões. Valores que, certamente, orientarão a sua ação como cidadãos europeus.
Além disso, Portugal não pode esquecer que, sem a UE, nós não teríamos o nível de desenvolvimento que temos hoje, com um conjunto de equipamentos e infraestruturas que fazem de nós um país desenvolvido, competitivo, que está, por exemplo, a acolher investimento estrangeiro e a dar cartas no turismo.

É claro que, no momento atual, não podemos ignorar alguns problemas que se colocam à UE, nomeadamente relacionados com o comércio internacional, face à desregulação que os Estados Unidos têm vindo a introduzir, assim como a China e a Rússia. No entanto, também aqui a Europa tem mostrado um mercado interno estável, que nos permite algumas garantias para as nossas exportações e que também nos dá garantias de que os produtos que importamos da Europa respeitam as regras dos direitos humanos e sociais, valor que devemos sempre preservar.

Ainda no debate, tive a oportunidade de defender que, face ao momento atual que a UE está a atravessar, em função do Brexit, Portugal tem de fazer uso da sua mais antiga aliança, que é com o Reino Unido. Devemos tirar partido dessa relação e devemos estreitá-la e intensificá-la, em termos do comércio e do turismo. Dentro deste quadro de grande estabilidade europeia, Portugal, através da sua diplomacia, deve procurar encontrar mecanismos de cooperação para que a nossa relação efetiva com a Inglaterra continue para além do Brexit.

Uma última nota, porque falar da Europa nos dias de hoje, implica falar das eleições europeias que se aproximam. Efetivamente, estas serão as eleições Europeias mais difíceis, face ao cenário europeu de evolução e crescimento de alguns partidos populistas, em determinados países. Fruto deste cenário, o próximo Parlamento Europeu vai também ser mais difícil, do ponto de vista dos consensos, com mais tendências nacionalistas e menos políticas solidárias. Por isso, o papel dos parlamentares europeus vai ser determinante, essencialmente, na sua relação com os eleitores. Infelizmente, tem havido um défice de participação na vida da cidadania europeia dos cidadãos europeus, fruto também de algum afastamento protagonizado pelas instâncias europeias. Os futuros eurodeputados terão de ter uma proximidade e uma relação muito forte com os cidadãos e um grande conhecimento das suas realidades regionais.

Só assim, poderão influenciar positivamente as políticas europeias, num debate que se espera mais exigente na defesa das políticas de coesão, no futuro programa comunitário de financiamento europeu.

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