Outrelo é um lugar pertencente à freguesia de Vila de Punhe, muito juntinho ao lugar das Neves, concelho de Viana do Castelo.
Outrora não possuía água canalizada e as donas de casa, daquela aldeia, muniam-se de um cântaro de barro (20 litros), para enchê-lo na fonte e abastecer a habitação familiar com água potável. Imagine-se o esforço das mulheres daquele tempo, carregando com 20 litros de água à cabeça, mais o peso do cântaro. Eram tantas as viagens quanto a necessidade de se aprovisionarem daquele precioso líquido para seis/sete pessoas em média por cada residência. A distância era de cerca de um quilómetro, para a maioria dos habitantes daquela zona, e o percurso também não era plano. Desciam com o cântaro vazio e subiam com ele cheio. Uma canseira, um esforço extraordinário, uma preocupação para aquelas senhoras a ter de carregar com uma grande bilha em terracota cheia de água à cabeça.
Entretanto, as pessoas da terra começaram a abrir poços nos seus lugares/quintais, e daí extraiam o precioso líquido, ao balde, com uma corda ou então com a adaptação de um pequeno motor ao cimo do poço, pousado numa prateleira colocada para o efeito, ligado a um tubo plástico com uma pinha filtrante, no fundo.
Recordo o esforço de minha mãe, nesta azafama de percorrer várias vezes aquele trajeto diariamente, para abastecer com água a nossa casa. Éramos nove pessoas. Um cansaço indescritível!
A fonte, com nascente de água permanente ainda hoje existe, mas já ninguém se serve dela e, é lá que o rio tem a sua origem, com o mesmo nome – rio do Outrelo, assim chamado pela população.
Em tempos ali juntavam-se várias criaturas – “lavadeiras” – junto à Estrada Nacional, para lavarem a roupa em pedra própria de granito, ligeiramente inclinada e burilada, para melhor torcer, e onde passava a água corrente. Eu que tantas vezes tinha que borrifar a roupa com um regador, quando minha mãe a punha a corar em terreno ao lado. Enchia-o no próprio rio, tinha seguramente 10 anos e relembro estes episódios de infância. Tudo isto acabou. As famílias passaram a dispor de máquinas de lavar roupa e o lavadouro extinguiu-se. Assim acontecia nos começos dos anos 50… naquela fonte e, no rio do Outrelo.
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