Não poderia ficar indiferente face ao que está a acontecer no médio-oriente, designadamente numa região que, desde há séculos, influencia a interacção dos povos. Refiro-me, naturalmente, à região que engloba Israel e países limítrofes, onde nasceram e viveram, há milhares de anos, os percursores de uma nova forma de valorizar a vida e da criação das raízes de uma civilização mais humana e mais justa.
Tudo começou na cidade de Ur, no país que hoje se chama Iraque, onde Abraão vivia, e, seguindo uma promessa de Deus, partiu com a sua família para a terra prometida. Família que era constituída por sua mulher, Sara, e um sobrinho, Lot, além de outros parentes. Como Sara era estéril, Abraão, a pedido desta, engravidou a sua escrava, Agar, tendo nascido um filho de ambos a quem deram o nome de Ismael. Contudo, os ciúmes surgiram, provocando uma ruptura total entre as duas mulheres, e Agar acabou por ser rejeitada e expulsa da família com o filho ilegítimo de Abraão. Sara, já em idade avançada, acabaria, porém, por engravidar, por vontade de Deus, tendo nascido um varão a quem deram o nome de Isaac. Grosso modo, é isto que a Bíblia nos relata e são estas personagens as grandes protagonistas da História antiga com profundos reflexos, ainda, nos nossos dias.
A partir de Ismael as gerações sucederam-se nos séculos, gerando nações que se habituaram a viver, predominantemente, nas terras das areias dos desertos, dando origem aos árabes. As gerações, a partir de Isaac, sofreram as perseguições, as guerras e o cativeiro, tendo-se espalhado um pouco por todo mundo, mas sem nunca se esquecerem da terra prometida, em que relevou o reino de Judá, donde provém o judaísmo. O povo judeu foi perseguido e passou por grande sofrimento durante muitos séculos, culminando com o holocausto durante a segunda grande guerra mundial de 1939/45, em que foram mortos pelos alemães de Hitler, em circunstâncias terrivelmente trágicas, mais de seis milhões de judeus de todas as idades. Acabou este povo por lhe ser atribuída, de direito, pela Sociedade das Nações, uma região na chamada Palestina, que deu origem ao Estado de Israel como hoje o conhecemos. No entanto, esta decisão da Sociedade das Nações não agradou aos países árabes limítrofes nem ao povo que já por ali estava a viver, os palestinianos, pelo que vêm alimentando ódios que têm conduzido a diversos enfrentamentos violentos, cujo último desfecho é o que nesta altura está em curso. Temos, assim, dois povos irmãos a combater-se de forma brutal. Os filhos de Ismael e os filhos de Isaac. Um, filho ilegítimo de Abraão, e outro, filho legítimo. O ódio é tanto que a paz se torna uma utopia.
A guerra fratricida que vem ocorrendo, desde o fim da primeira semana do mês de Outubro, é a pura expressão de um ódio de morte por parte de grupos terroristas palestinianos contra os judeus, que teve a sua ignição na selvática invasão de algumas aldeias israelitas próximas da faixa de Gaza, onde os terroristas do grupo hamas deixaram espalhados pelo solo centenas de cadáveres de homens, mulheres, crianças, entre as quais bebés, absolutamente trucidadas, esquartejadas, queimadas, baleadas, para além de terem raptado centenas de pessoas, cuja vida pode até já ter terminado para algumas delas. Um acto de selvajaria inimaginável, neste século, que nem os piores monstros cometeriam e que as autoridades e o povo israelita não podem deixar passar, impunes. O extermínio deste bando de criminosos e de outros bandos do mesmo género, que só se alimentam do ódio, é o fundamento desta guerra e a resposta de Israel a que assistimos. Quem, como eu, se lembra do que os terroristas em Angola fizeram a milhares de pessoas brancas indefesas, em 1961, cortando-as aos bocados com catanas e abandonando-as às feras, não pode esquecer e deixar de repudiar com todas as forças o terrorismo, seja onde for.
Sou contra a morte de pessoas inocentes. Os cidadãos israelitas que foram vítimas dos terroristas do hamas eram inocentes e foram barbaramente assassinados. Os civis que vivem na Faixa de Gaza, e que estão a ser vítimas colaterais da reação armada das Forças de Defesa de Israel, transformaram-se no centro das atenções mundiais, e os palestinianos estão a receber excessivas manifestações de apoio por todos os sítios. Mas questiono estas sociedades hipócritas por que razão não tiveram e não têm um comportamento idêntico para com as vítimas e o povo israelita, condenando não só os grupos terroristas e os países que os apoiam, como também ajudando Israel à exterminação do terrorismo com que se debate.
Condena-se Israel pelas medidas restritivas impostas à Faxa de Gaza, mas não se valoriza o facto de a população palestiniana ser avisada com frequência para se deslocar para outras zonas onde pode estar em segurança. E também não se condena o facto de os terroristas do hamas utilizarem populações civis, incluindo muitas crianças, como escudos humanos, e terem os depósitos de armas junto ou mesmo dentro de equipamentos sociais. Não é isto um mundo do avesso? Será que as pessoas que se manifestam estarão lúcidas?
Nesta guerra, como em qualquer outra, mata-se e morre-se e é difícil cumprir as regras do Direito, seja ele qual for. Combatentes e civis indefesos são sempre vítimas colaterais das acções armadas. Não é o que também acontece com a guerra na Ucrânia? Nenhum Estado civilizado tem os civis como alvo. Sempre assim foi e será, e não venham papaguear condenações para um Estado democrático, e exaltações para grupos terroristas. O conflito em curso merece uma vitória do bem sobre o mal, com a exterminação dos terroristas e de quem os apoia. Oxalá se desenhe o figurino para uma paz efectiva e estável. Afinal, estes povos são filhos do mesmo pai, Abraão, e deviam, simplesmente, viver como irmãos ou, pelo menos, como bons vizinhos.
NR: O autor não acompanha
o novo acordo ortográfico