Após a quadra natalícia, o fim do ano correu, apressadamente, para a meta final. Pela noite adentro, as horas foram avançando, as últimas horas do ano, até à derradeira, a hora do desenlace. Foi na hora transitória da meia noite, que se estabeleceu o choque entre um ano que acaba e outro que começa. O Ano Novo que desponta é uma fonte de esperanças e de ansiedades que se agitam. O ano que passou, para muitos, foi um mundo de desenganos a tentar esquecer. Ao fazer-se o inventário do ano que terminou nele encontrámos bom e mau, que forçosamente vai suceder ao que lhe segue. Surge um conflito nas almas, na presença de um universo de desilusões amargas que cai, perante um conjunto de venturas a iniciar. É a hora síntese! Esvai-se um contingente de ilusões para principiar, um outro, no desejo que a felicidade possa rejuvenescer. Na crença esperançosa de que o actual vai ser melhor, rejeita-se o passado para abençoar o que entra, mas que na sucessão dos dias começa, também, a ser questionado.
Na sequência do cumprimento das leis da vida e da morte, a natureza, suprema e implacável senhora dos mundos, mata um ano para dar origem a outro. O Ano Novo é a Primavera das gentes. Agora, diz-se, vida nova! Quantos votos, quantas confianças, quantos projectos… E tudo isto enquanto não vem o desânimo, a primeira promessa que se esfarela, o primeiro plano por realizar. Então, começa a tornar-se velho, pesado, aborrecido. O juízo do ano somos nós quem o formulamos com os nossos vaticínios, com os nossos encantos no desejo de alcançar algo de bom, com as nossas fortunas ou pobrezas e com os nossos desencantos. Em qualquer parte do globo terrestre, na continuidade do tempo, venerável e caprichoso companheiro, os anos rendem-se como as sentinelas na guarda dum quartel. Sempre o mesmo cerimonial, as mesmas obrigações deixadas e os mesmos deveres a cumprir, apontando, às pessoas, o caminho da existência.
O ano de 2023 acabou! Houve quem não gostasse e houve quem ficasse satisfeito. Os cartomantes, os videntes e os astrólogos já iniciaram o lançamento das suas profecias. O ano findo mostrou um séquito temeroso de desastres, guerras, morticínios, terramotos, naufrágios, inundações e outras tragédias, ligado ao aumento constante do nível de vida. Haverá paz em territórios que formam as duas partes do hemisfério, aliado, também, a outros onde a guerra e a destruição persiste, assustadoramente, em conjunto com a fome a precipitar a desgraça humana.
Que o Ano Novo, que chegou, ungido pela graça das suas esperanças, seja propício à fortuna, à saúde, ao amor, secundado, ainda, de um manancial perene de tranquilidade.