5.2 – O Esperanto e a possibilidade de mudança
Com o desejo de defender a democracia de igualdade entre as nações, foi defendido, em 1887, a criação do Esperanto, de fácil aprendizagem, e que servisse como língua franca internacional, pois através dela uma cultura não é imposta aos novos falantes, como é o caso atual do inglês. Apesar da facilidade gramatical, o Esperanto enfrenta dificuldades de ser adotado como língua auxiliar universal. No entanto, não podemos esquecer que o inglês só atingiu este patamar desde o fim da segunda guerra mundial. Queremos com isto recordar que nada é eterno. Como refere Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. Com o atual desenvolvimento económico da China, nada nos surpreende que a língua mandarim venha a substituir, dentro de alguns anos, o lugar que o inglês ainda ocupa. Aliás, o mandarim é a língua mais falada no mundo e o seu ensino está muito divulgado. Em Portugal há várias escolas, como, por exemplo, a Escola Chinesa de Lisboa e o Instituto Confúcio da Universidade do Minho (há 500 institutos espalhados pelo mundo e seis em Portugal: Minho, Lisboa, Aveiro, Coimbra, Beja e Porto).
5.3 – Minha Pátria é a Língua Portuguesa
Mas voltemos ao nosso idioma e cultura. Fernando Pessoa refere no Livro do Desassossego, assinado pelo semi-heterónimo Bernardo Soares, que “Minha Pátria é a Língua Portuguesa”. O nosso idioma, porém, tem sido muito maltratado. Para reflexão, transcrevo as seguintes palavras sobre a língua portuguesa, incluídas no Diálogo I da Corte da Aldeia, cuja 1.ª edição foi publicada em 1619: «… (a nossa língua) tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da Latina, a origem da Galega, a familiaridade da Castelhana, a brandura da Francesa e a elegância da Italiana (…) E, para que diga tudo, só um mal tem: e é que, pelo pouco que lhe querem os seus naturais, a trazem mais remendada que capa de pedinte» (Confª. João Malaca Casteleiro -A Língua Portuguesa no Mundo … págs.201-210). Isto foi escrito no século XVII, quando a língua portuguesa estava em franca expansão, recebendo e transmitindo muitas palavras resultantes dos contactos com outros povos. Agora, no século XXI, José Saramago chama a atenção que a luta pela sobrevivência da língua portuguesa está no próprio país de origem e se aí se perder, há muitas probabilidades que se venha a perder nos outros lugares do mundo que a falam.
Numa reflexão sobre perspetivas de futuro, pensamos que é pela consciencialização da sociedade civil que podemos tentar evitar a degradação que está pervertendo a língua e cultura portuguesa, prejudicando uma convergência de esforços que visem a afirmação e desenvolvimento da Lusofonia, pelo que julgamos de interesse a divulgação de artigos sobre esta temática.
Principal bibliografia
– A Língua Portuguesa no Mundo. Passado, Presente e Futuro. Org. Alexandre A. Costa Luís, Carla S G Xavier Luiz, Paulo Osório, Lisboa, 2016;
– BARRETO, Luís Filipe – O Sentido da Expansão Portuguesa no Mundo (Séculos XV-XVIII). Revista da Administração Pública de Macau, 1997;
– MORAIS-BARBOSA, Jorge – A Língua Portuguesa no Mundo, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1968;
– LUIS DE MATOS – História da Expansão da Cultura Portuguesa no Mundo. Lisboa, Instituto Superior de Ciência Sociais e Políticas, 1972;
– REGO, António da Silva – Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente, Índia. Lisboa, Fundação Oriente, 1992;
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa;
. Instituto Internacional da Língua Portuguesa.