Vou contar-vos um grande amor, que deu origem a belo livro de poesia, entre um portuense e uma gentil menina mineira, cuja primeira edição veio a lume em 1792.
Apesar do poeta se mostrar apaixonado pela jovem de dezoito anos, não obstou que viesse a casar com senhora, um pouco boçal, filha de mercador de escravos.
Refiro-me a Tomaz Gonzaga, ouvidor de Vila Rica, que participou na conspiração, que ficou conhecida por: “Inconfidência Mineira”, cujo fim era implantar o regime republicano.
Movimento revolucionário, que todos os brasileiros conhecem. Será que conhecem? Creio que sim, apesar de alguns factos históricos serem, em quase todas as nações, propositadamente esquecidos ou encobertos.
Quem era Tomaz Gonzaga, que muitos julgam ser brasileiro?
Nasceu na cidade do Porto, em 1744, filho de brasileiro e de portuense, batizado na igreja de S. Pedro de Miragaia.
Consta, o seguinte, no livro de Registos Paroquial, do dia 2 de setembro do ano de 1744: “Thomaz filho do Licenciado João Bernardo Gonzaga e de Dona Thomazia Isabel Gonzaga, moradores na rua dos Cobertos desta freguezia, nasceo a onze de Agosto de mil sete centos e quarenta e quatro, e foy por mim baptizado a dous de Setembro do mesmo anno, sendo padrinho o Reverendo Domingos Teyxeyra de Abreu, digo Domingos Ferreyra de Abreu assistente na Cidade de Lisboa; tocou por elle com procuração o Reverendo Licenciado Antonio de Deos Campos Conego Mageatral da Sé desta Cidade; e tocou também o menino o Doutor Desembargador desta rellação João Barrozo Pereyra assistente na rua dos Ferradores, da freguezia de Santo Illdefonço suburbio desta Cidade; forão testemunhas as abaixo comigo assinadas desta mesma freguezia; e por verdade fis este assento, que assiney hera ut supra.
O Abbade Manoel da Cruz, O Pº. Raymumdo Darque, Antonio Gomes de Castro”.
Tomaz Gonzaga (Dirceu) embarcou com o pai para o Brasil com oito anos de idade. Era ouvidor em Vila Rica (andava pelos 45 anos) quando se apaixonou por delicada menina de 18, rica e órfã: Maria Joaquina Doroteia de Seixas Brandão (Marília).
Nos versos que escreveu, versos de amor, deixa a dúvida, a quem os lerem, que não tinha a certeza da cor dos cabelos de sua amada: umas vezes diz que são pretos; outras vezes louros…
Apesar da enorme diferença de idade, parece que havia entre os namorados grande e mutuo afeto.
O certo é que se envolveu na preparação da revolta contra a Monarquia, inspirada nas ideias democratas, que José Joaquim da Maia difundiu influenciado por ideologias em voga nos Estados Unidos.
Argumentavam os conspiradores que a razão eram os demasiados impostos que a Coroa impunha aos mineiros. Denunciados, foram presos e condenados: uns a prisão; outros à morte. Passava-se isto em 1787-89.
A rainha perdoou-lhes a pena capital, comutando-a em degredo, menos ao Tiradentes, como se sabe.
Tomaz Gonzaga, depois de passar pela prisão da ilha da Cobra, no Rio, foi para Moçambique, onde viria a casar com D. Juliana de Sousa Mascarenhas, senhora de abastada fortuna. Do enlace nasceram: a Ana e Alexandre Mascarenhas Gonzaga.
Consta que advogou e levou vida abastada. A menina mineira (Marília) ainda o foi visitar. Dizem que engravidou, o que leva a crer que o amor dela era mais sólido.
Tomaz Gonzaga (Dirceu) faleceu em 1807. Maria Joaquina (Marília) ainda viveu até 1853, e está sepultada em Ouro Preto. Em 21 de Abril de 1955, foi transladada para o Museu da Inconfidência.