Se as mulheres eram desconsideradas, desde os tempos antigos (e continuam a ser em muitas terras, em muitas religiões – inclusive na Católica – e em muitas culturas), o que diremos dos homossexuais, dos gays, das lésbicas, que são tidos como aberrações, pecaminosos e seres contranatura!
Contranatura? Nada mais falso. A ciência diz-nos que ninguém nasce 100% homem ou 100% mulher, mas que cada ser humano acaba por ter uma mistura maior ou menor de hormonas masculinas ou femininas, de modo que a classificação tabeliónica é meramente um indicativo sobre o sexo masculino ou feminino. Que culpa tem um ser humano de nascer com um corpo de homem e ter uma mente de mulher? Que culpa tem um ser humano de parecer uma bela mulher e desejar ou amar outra mulher? E que culpa tem um homem ou mulher por apreciarem os dois sexos, isto é, serem bissexuais, serem hétero e homossexuais ao mesmo tempo? Avançando ainda mais um pouco: que culpa tem, seja quem for, de não se sentir bem com o corpo que recebeu desde o ventre materno? Ou, então, que culpa tem um ser humano de ter nascido assexuado, isto é, sem sentir qualquer atração para estar, na intimidade, com pessoas do mesmo género ou de outro sexo? Finalmente: que culpa tem quem foi dotado de excecional energia sexual, homem ou mulher, homo ou heterossexual? Bendito seja.
Anda por aí um falatório (melhor dizendo, um internetório, conversa de internet) por causa dos conceitos de sexo e género e da classificação académica de várias sexualidades: desde as maioritárias (heterossexuais) às minoritárias (bissexuais, homossexuais, gays, lésbicas, transsexuais). Só que, numa opinião de uma especialista nessa matéria – que aprovo – não há duas, nem cinco, nem setenta vezes sete sexualidades, mas oito mil milhões (oito biliões), pois cada ser humano é único, tanto na sua impressão digital, como na sua sexualidade (Ana Alexandra Carvalheira, Psicóloga Clínica, no seu livro “Em defesa do Erotismo – a favor da Liberdade e da Saúde Sexual, editora Desassossego”
Infelizmente, as religiões largamente maioritárias (judaísmo ortodoxo, cristianismo e islamismo) acharam-se no direito de conduzir, até ao pormenor, todo o comportamento humano, e dentro deste, das expressões sexuais, em pensamentos, em palavras e em obras, dando-lhes um lugar singularmente destacado (como proibição absoluta) nos Mandamentos. Esqueceram-se, porém, de três aspetos importantes. A sexualidade não está exclusivamente ligada à função da procriação (1), já de si importantíssima, mas também à da saúde (2) psico-somática (mente e corpo) e, ainda (3), ao prazer e alegria de cada ser humano.
As mulheres, aliás, são generosamente contempladas pela Natureza com duas hormonas: a da Serotonina, também comum ao homem, que é a chamada hormona da alegria, do prazer, do humor e da felicidade, mas também, no caso feminino, a da Oxitocina, a chamada “hormona do amor”, que é libertada na presença do parceiro e está ligada a sensações muito agradáveis de bem-estar, físico e emocional, de segurança e felicidade e atinge o máximo no ato de parir e da lactação. A atitude, bem comum e natural das mulheres na criação e manutenção de amizades entre as pessoas, também é própria desta hormona. É vê-las, todas contentes, palrando como pássaros no regresso ao ninho.
E das três funções sexuais (a procriação, o prazer, a saúde) falta, precisamente, falar desta última. Uma boa saúde geral também se deve a uma satisfatória sexualidade e vice-versa. Atualmente, a medicina aconselha os homens, por causa das doenças da próstata, a terem atos sexuais regulares, até mesmo frequentes e, quanto às mulheres, os orgasmos devem ser regulares e, preferencialmente, intensos, porque o benefício para o seu sistema nervoso, entre outros aspetos, é incomensurável.
Portanto, como já foi dito e repito, hormonas, neurotransmissores, prazeres, orgasmos, felicidade … tudo isto é natural, tudo isto é Natureza. Sublinhando: mas a que título é tão castigador o Cristianismo (sobretudo o Catolicismo)? Qual a razão da sua fobia em relação ao sexo e, sobretudo, à homossexualidade? Que diz Jesus Cristo? “Porque há EUNUCOS que o são desde o ventre materno, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor dos Reinos dos céus” – Mateus, 9-12. (Eunucos= impotentes, débeis, sem vigor, sem virilidade; homens castrados que tinham a função de guardar as mulheres dos haréns).