O “Sonho” e o “Fado”…

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Nunabre

Gosto de apreciar, com ouvido e alma, alguns dos “CD” que adquiri! Nesta crónica, quero falar de um deles: “ O melhor de Frei Hermano da Câmara”, (Artista, felizmente ainda vivo, mesmo octogenário, pois nascido em 1934. Todo este CD – que escuto frequentemente – merece-me um justíssimo qualificativo: maravilhoso (pela letra, pela música, pela interpretação)!

O 1º número intitula-se “Fado da despedida” e nele diz Frei Hermano. “Ser fadista foi meu sonho, mas não foi este o meu fado… Deus traçou-me outro caminho… fez-me andar para outro lado”. De seguida, o cantor prossegue cantando – contanto alguns passos da sua vida, concluindo: “O meu destino é ser monge”.

Ora bem: quando uma canção me agrada pela melodia, mais me seduz se o poema musicado é por mim analisado, compreendido, saboreado, artisticamente. É o caso do “Fado da despedida”. Maravilhoso, como aliás, todos os números desse CD, cujos poemas, variados em tema e autoria, são também dignos do meu enlevo!

Como tenho espírito muito atento ao que vou ouvindo, lendo, observando, qualquer chispa impressionista me fornece tema para outra crónica. Foi o caso de, neste fado, Frei Hermano ter posto em contraste “Sonho” e “Fado”.

Vamos cá divagar, especular, acerca destes dois vocábulos-significantes. Nada fácil esta tarefa! São palavras de significado muito denso…

“SONHO” – quanto haveria a discorrer sobre o conteúdo ideológico deste significante!… “FADO” – que manancial exuberante de explanação significativa esta palavra contém…! “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado” (Amália).

Deixemos então o nosso voo especulativo e desçamos ao concreto designado por Frei Hermano! Quer ele dizer que sempre, desde pequeno, desejara cantar, ser fadista, interpretar cantando estados de alma, alegrias e tristezas das almas sonhadoras…! Era o Sonho navegando no mar das estrelas…! Só que, feliz ou infelizmente, teve mesmo que aterrar, encolher as asas, já que, entretanto uma força-oculta, um impulso inelutável, um “destino” indomável, o impelira fatalmente…! Chegara o seu “fado” pessoal…!

Lição a extrair: por entre nuvens duvidosas, todos e cada um temos uma sina  a cumprir e esta depende de Nós, de Algo, de Alguém…

Produto de sonho, fado, idealismo, realismo, Frei Hermano semeou Beleza, aproximando-nos mais de Deus!

Bem hajas, Frei Hermano!

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