Dando continuidade à publicação da comunicação de Artur Maciel na conferência do Centenário da “A Aurora do Lima, prossegue a caminhada pela Viana antiga.
A jovem praça da Rainha, não diferia do Campo Novo, ou melhor, continuava algo renitente a deixar de ser o velho campo do Forno. Dela vemos partir, para a carreira, a estreita rua de Sant’Ana. Lá está, – longe ainda de pensar no vidrado rótulo do Banco Pinto & Sotto Mayor… –, a casa do morgado de Lanhelas. A água do chafariz de João Lopes, ainda a da fonte do espinheiro, depois de cair no tosco tanque de acréscimo, onde as bestas de sela podiam beber e a cujas bicas se iam encher talhas e gomis, corre em rego aberto para as bandas da picota, a caminho do rio.
Neste lesto passeio pela recém-nada cidade, é de crer que o turismo nos aconselhasse uma saltada ao largo de S. Domingos, a fim de admiramos, à falta de um aqueduto romano, – evidentemente! – outro chafariz. Ali o olhamos, com as duas taças, erguido sobre três ordens de escada, com alta coluna de fuste estriado. Em vez da primitiva – e roubada! – pirâmide de pórfiro, trazida de Roma, ostenta sobre uma esfera constelada a estátua do Salvador do Mundo.
Creio que, nesta fugaz peregrinação, já nos cruzamos pelas ruas de Viana com diversos tipos de indumentária que só descobrimos hoje dispersos pelas páginas de alguma história do trajo. Encontramo-nos com a vianense do capote e lenço e da mantilha, com o vianense do jozézinho e da bota de cano. As gentis damas usam ainda a saia de balão. Os respectivos cavalheiros, impecavelmente barbudos, vestem a sobrecasaca liberal. Alguns frades egressos, pode que surjam, bastante de fugida, da capa com romeira e tricórnio…
Julgo já termos todos pensado num problema que ainda não deixou de fazer cabelos brancos à cidade: o da instalação do visitante!
Não nos iríamos albergar na estalagem dos Dois Amigos, onde aquele Reverendo Kinsey, de Trinity Colleg de Oxford, lá por 1827, topou toleráveis acomodações, numa rua tão estreita como que para poder-se cumprimentar de mão os vizinhos da frente, de que nos fala no volume de cartas a que chamou “Potugal IIlustrated”.
Mas dispomos do Hotel Vianense, à rua Grande, nºs 16 e 17, cuja gerência, justamente em janeiro de 1856, graças à boa informação dos anúncios da “Aurora do Lima”, sabemos que Maria Luiza Marrocos cedia à filha, Teodora Maria Marrocos.
Estamos, pois, instalados, e principiamos a estabelecer relações com gente conhecida da terra, o que é agradável e útil para forasteiros que vieram, como nós, cumprimentar uma senhora de tão boa memória e palradora como é esta vianesa D. Aurora do Lima, que hoje aqui nos reúne.
Bem sei que, a seguir o seu conselho, teríamos dado uns passos mais aqui na rua ao lado, a da amargura, o que seria muito mais assisado, porquanto, no palco do Teatro da Caridade, estaríamos a ouvir a Ristori, o Taborda, a Emília das Neves, até mesmo a “oratória” do Brás Martins, levada à cena por amadores locais. E aqui só se me houve a mim.
É também possível que a nossa anfitriã, com o hábito que lhe assiste de dar notícias, haja previsto a curiosidade que algum dos presentes possa ter em relatar, a pessoas de família que vivam longe, como decorreu a festa para que ela os convidou.
Assim lhes recomenda que, na picota, ao nº 14, João das Neves, tem agora o seu estabelecimento de estafeta antigo, com filial na Praça de Carlos Alberto, no Porto
Continua