Uma nuvem negra paira sobre a Serra d’ Arga.
A exploração de lítio é uma ameaça, sem precedentes, sobre aquele ecossistema que encerra valores naturais, culturais e sociais milenares e que são inalienáveis.
Há valores que nenhuma promessa de riqueza nem nenhuma quimera de progresso fantástico podem comprar.
Jamais alguém, algum dia, ousou pôr em causa o equilíbrio daquela que é uma das jóias da coroa do concelho e da região.
Sei, por experiência própria, como começam e como acabam estes processos.
Acompanhei, de perto, em Barcelos, a “guerra” dos caulinos (no qual até houve mortes) e, mais recentemente, a instalação da Linha de Muito Alta Tensão.
De nada valeu a firme oposição das populações.
Quando o processo chega às providências cautelares, já está tudo perdido, já entramos na fase das “lágrimas de crocodilo” dos políticos que estão, quase sempre, “coligados” com os grandes interesses.
Só existe uma forma de travar um processo como este, a via política que pare o processo à nascença. Só a vontade política pode salvar a Serra d’ Arga.
Neste momento, os sinais que vêm da política são muito preocupantes.
– O Governo assinou o contrato para a exploração do lítio, no mesmo dia em que o OE foi chumbado – 28/10/2021, bem sabendo que o PR dissolveria o Parlamento e marcaria novas eleições, o que aconteceu, poucos dias depois, em 4/11/2021. Como se explica esta pressa, para quem está de saída?
– O Ministério do Ambiente retira poder de veto às autarquias para impedir a mineração nos seus territórios.
– A consulta pública do Relatório de Avaliação Ambiental Preliminar do Programa de Prospecção e Pesquisa foi aberta dois dias após as eleições autárquicas.
Não me parece que sejam coincidências ou mera distracção.
Quem assim procede está a declarar guerra à Serra d’ Arga.
Estamos em guerra e quem não é por nós, é contra nós.