Cultivemos o sentido crítico

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Ainda há bem pouco tempo aqui tratamos o assunto do Prédio do Coutinho. A ele voltamos de novo porque, dada a irreversibilidade da sua demolição, como se constata, não pode passar sem referências. Foram mais de 20 anos em litígio, quer nos corredores da justiça quer na praça pública. Foi um caso que apaixonou e dividiu Viana do Castelo, sendo que hoje quase se pode dizer que não há certezas sobre a percentagem de vianenses – e até no todo nacional – que está ou não a favor da demolição. Mas o não retrocesso do procedimento também já não dá para fazer essa contabilidade. 

O que podia ter acontecido, e também já aqui o afirmamos, era todo este processo ter tido desenvolvimentos diferentes, independentemente do número de apoiantes de qualquer uma das partes. Decisões que envolvem custos com a dimensão que esta teve, e vai ter, que tocam com direitos próprios dum estado democrático, consignados na constituição, como é o caso da habitação, exigem muito diálogo, serenidade e até paixão no encontro de soluções.

Porém, as sociedades também têm obrigatoriamente que saber ultrapassar desacordos e progredir no sentido da pacificação. Agora, o caminho a percorrer terá que ser o de criar soluções para todo o espaço que vai ser libertado do edifício da polémica que sejam do agrado da maioria dos vianenses. Já se sabe que não há soluções milagrosas, agradando a 100% dos cidadãos, no entanto, há opções que, mesmo mal compreendidas à partida, acabam por ter uma concordância quase generalizada depois de concretizadas. Se tal acontecer, as polémicas tendem mais facilmente a serem sanadas.

Contudo, este processo do prédio do Coutinho coloca maiores exigências aos poderes, particularmente autárquicos, que é o de aprovarem ou não projetos de construção que chocam com a legalidade e os mais elementares conceitos urbanísticos. E, infelizmente, de há vinte anos a esta parte, se dermos uma volta pela cidade e arrabaldes, podemos constatar que não faltam por aí “aleijões” urbanísticos em abundância.

Que, na hora de aprovar, cada autarca tenha bem presente o que agora está a acontecer e não queira ser cúmplice da política de dois pesos e duas medidas, tantas vezes em função do poder económico e da habilidade de quem constrói. Aguardemos, mas atentos, porque as sociedades são mais perfeitas quanto mais participadas e escrutinadas pelos cidadãos.

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