Enfim, dois meses depois das eleições, foi empossado o XXIII Governo da República que terá na concentração de poderes no primeiro-ministro uma das suas características mais salientes.
Estruturado com base mais na continuidade que na evolução e sendo maior do que se previa e menos tecnocrático de que político-partidário, o Governo parece vir a ser pouco inovador, criativo e reformista.
A dominância “alfacinha” dos seus membros, o reforço do poder do primeiro-ministro e o facto de os seus delfins integrarem o Governo permitem que este se possa assemelhar à “corte” dos tempos da monarquia.
O superministério da Presidência, cinco ministérios e quinze secretarias de estado integrarão, direta ou indiretamente, o núcleo duro do Governo. Os serviços deste núcleo, incluindo os da gestão do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), concentrar-se-ão no edifício da sede da Caixa Geral de Depósitos, ao Campo Pequeno.
As Finanças, relegadas para um lugar secundário e confiadas a um economista, mais político profissional que técnico especialista, poderão prenunciar a continuação de desequilíbrio das contas públicas. Com a promoção aos Negócios Estrangeiros do ministro, teremos uma mulher, pela primeira vez, na pasta da Defesa – o que já é habitual na Europa. E nas restantes pastas, destaque-se um jornalista político na Cultura, de quem não se espera insuficiência de pluralismo, e um engenheiro, autor do PRR, na pasta da Economia e do Mar.
O diabo continua a andar à solta no inferno da Ucrânia. Por isso, e também porque já se fala de “nova guerra” na Europa, a par do reforço da Defesa e Segurança, o Governo não poderá descurar a preparação dos Portugueses para as suas consequências económicas e sociais.