7. Rua da Bainharia
A longa velhice da coluna de uma senhora tem tornado a marcha tão penosa que se escusa ao movimento e ao ar fresco do caminho. Desta vez, a filha sentou-a numa cadeira de rodas e seguiram viagem pela delgada Rua da Bainharia. O passeio foi travado pela súplica de uma vizinha que, no umbral da porta, declinou, sem aviso, o seu menu de aflições: Ai meu Deus… a artrose no joelho, os pólipos nos intestinos, o tumor na cabeça… só um milagre.
A velha senhora levantou-se, cambaleou rua fora; a filha continuou a empurrar a cadeira com a vizinha sentada.
Pedro Pereira – Antropólogo e professor do IPVC-CRIA