Mais Justiça social é preciso

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Gonçalo Fagundes Meira

Por mais tolerância que haja, a realidade vai-nos dizendo que, regra geral, na riqueza o Ser Humano é um ser insaciável. Porque nem todos tivemos a sorte de sermos especiais, e o crescimento económico também se cria promovendo os mais habilitados, não podemos contrariar naturais diferenças remuneratórias; porém, no mundo do trabalho, as sociedades não podem deixar funcionar livremente o mercado da oferta e da procura, sob pena de se instituir a selva para quem depende de outrem.

Na edição da semana passada, o semanário Expresso, em estudo elaborado a partir dos relatórios e Contas de 14 das 15 empresas que integram o índice principal da bolsa portuguesa, concluiu que os CEO (diretores executivos) ganharam em 2022 um valor superior a 17,5 milhões de euros, mais 47% do que ganharam em 2012. Entretanto, os salários dos trabalhadores, que, também em 2012, tinham sido de 36, 277 milhões de euros, viram este valor reduzido em 0,7%. Conclusão, os CEO, nos últimos 10 anos, aumentaram-se em 47%. Por sua vez, os trabalhadores, não só não tiveram qualquer aumento como ainda viram os seus salários diminuídos. Com dois pequenos grandes exemplos, ficamos suficientemente esclarecidos: o CEO da Jerónimo Martins (dona do Pingo Doce) ganha 186 vezes mais que a média dos seus colaboradores. Por sua vez, a CEO da Sonae (dona do Continente) ganha 82 vezes mais do que os que lhe vendem a sua força de trabalho.

O dinheiro dos outros, porque a esses pertence, em nada contribui para a nossa felicidade; e a cobiça, para além de nada acrescentar ao muito ou pouco que possuímos, é perversa e doentia. Contudo, um país que se quer desenvolvido e detentor de alguma harmonia remuneratória, a trilhar este caminho, tem dificuldades em lá chegar. Diz-nos, ainda o mesmo semanário, que, segundo um estudo do FMI, somos a 13ª economia mais lenta dos 195 países que compõem o planeta. Com disparidades desta natureza, não é difícil conceber que a tendência será para mais lentos nos tornarmos.

A Liga dos Amigos do Hospital de Viana tem em andamento uma petição a solicitar ao Governo que dote, este estabelecimento de saúde, de condições para tratar pessoas do distrito com doenças oncológicas, evitando o brutal sacrifício da sua deslocação para Braga e Porto. É uma reivindicação da mais elementar justiça. Só quem, frágil e em luta contra a morte, passou pela situação de fazer tratamentos longe de casa, sabe o que é este inferno. O verdadeiro Serviço Nacional de Saúde passa, fundamentalmente, por dar condições mínimas a quem tem a vida presa por um fio. É, nesta matéria, que devemos ser verdadeiramente combativos e exigentes. 

                                            GFM

                        

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