“Conhecimento é poder!” Esta máxima pode torcer o nariz a alguns, mas garanto-lhe, caro leitor, que é a mais verdadeira das verdades! Digo mais: é uma premissa muito presente na mente de quem tem o poder efetivo e é utilizada discretamente contra o comum dos mortais.
Duvida? Então duvide da razão pela qual não se ensina o Direito nas escolas. Posso eu ser o único que acha um absurdo que se entre na maioridade para um jogo do qual se desconhecem as regras? Os manuais estão disponíveis para todos, é certo, mas sendo escritos em latim não se vai muito longe. O motivo pelo qual o Direito não está acessível ao cidadão comum é simples: do que não se percebe não se reclama. Se é mais fácil para o governo enganar o ignorante, porque haveria o Ministério da Educação relevar os códigos do Direito? Como se não fosse suficiente esconderem-no e guardarem-no para si, manipulam-no e passam-lhe por cima, sendo usual mudarem as regras a meio do jogo. Isto é especialmente preocupante quando nos encontramos numa maioria absoluta em que as leis que passam são as leis que convêm. É quase um monólogo em que António diz: “Quero fazer isto. Posso?” E responde António para o espelho “Podes!”.
E assim se passam reduções no IRS para que o Zé Povinho esfregue as mãos de contente, enquanto o resto da matemática é esquecida: ao subirem os salários, contrabalançados pela inflação, sobe-se de escalão, pagando mais impostos, não porque se ganha poder de compra, mas pela evolução da economia em si, curva que as tabelas de IRS também deveriam acompanhar. Ora, isto não acontece e as tabelas estão claramente desatualizadas, e em vez de mudar os limites dos escalões é mais fácil e mais apelativo dizer que se vai reduzir o IRS, sendo que, na prática, ficamos na mesma ou pior. Ora, o cidadão comum, infelizmente mas não por demérito próprio, não faz estas contas e bate palmas até se aperceber de que nada muda, o que provavelmente acontecerá quando já houver outro governo para culpar do que fez este.
E falando nos mistérios da economia, vejamos também os segredos dos números do Estado. Se pusermos as coisas como elas são, vemos que, a partir do momento em que os impostos são pagos, perdemos o rasto ao dinheiro. Numa entidade privada isto seria impensável. Aquele que investe tem acesso a todas as contas e tem ainda poder de decisão sobre a administração das verbas. Porquê com o estado é diferente? Não encontro resposta. Se os impostos são pagos pelos portugueses, têm de ser investidos em prol dos portugueses e é aos mesmos que é necessário prestar contas. É quando se começa a esconder o que se faz ao dinheiro público (e em que contornos) que sabemos que isto traz água no bico. Só não entendo como é que esta neblina política é aceite pelos cidadãos, mas a verdade é que não me lembro de as coisas serem de outra forma. “O governo lá saberá o que está a fazer.” Mas sabe mesmo? Pela amostra desta frágil mas absoluta maioria, não me parece.
Luís Trindade