A antiga Capela da Misericórdia e a construção da igreja da Misericórdia de Viana do Castelo que perfaz 300 anos este ano

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Alfredo Faria Araújo

Anteriormente à atual igreja da Misericórdia de Viana do Castelo havia uma ermida, demolida por seu mau estado de conservação. E é por esta que iniciaremos a descrição.

A 27 de abril de 1521, a Câmara de Viana da Foz do Lima requereu a D. Manuel I no sentido de enviar o regimento da confraria da Misericórdia então criada, mas só a 2 de novembro do mesmo ano o Rei assinou os estatutos ou compromisso, doando-lhe dinheiro e unificando-lhe a leprosaria de São Vicente, vaga por não ter leprosos naquela altura.

Para melhor compreensão deve dizer-se que a ermida levou muitos anos a ser construída , com grande dispêndio de dinheiro e atravessando os mandatos de muitos Provedores. Assim, houve um primeiro projeto que acabou por ser invalidado e a 16 de Agosto de 1526, em sessão camarária, com a presença do Provedor Bartolomeu Rodrigues e os oficiais João Afonso, escrivão, Gonçalo e Álvaro Lopes, foi requerida licença para edificação da casa e capela da Misericórdia, em terrenos adquiridos a Martim Fernandes e, dado que o sítio era conveniente e a despesa assumida pela irmandade, a Câmara deu o seu consentimento.

Construíram-se altares, retábulos e vários ornamentos para os quais foram escolhidos e contratados artistas como Manuel Arnau Leitão e André de Padilha. Da encomenda a André de Padilha foi preservado até hoje o retábulo que representa Nossa Senhora da Misericórdia, exposto atualmente numa das salas-museu da Santa Casa, no segundo andar do edifício sede. 

Em 1587, sendo Provedor João Jácome de Luna, a capela encontrava-se muito danificada e era pouco funcional, o que levou a um apelo aos irmãos e à população para que fossem feitas obras.

Em julho de 1602, Bento de Padilha, sobrinho de André de Padilha, pinta os retábulos de S. Francisco e de Santo António, conservadas até hoje e expostas na mesma sala-museu em que pode ser admirado o retábulo de Nossa Senhora da Misericórdia, de André de Padilha. 

Em 1640, o Provedor João d’Agorreta Ferreira manda acabar a obra de azulejo e a pintura da sacristia. 

Algumas décadas mais tarde, em 1714 , o Provedor Guilherme Rubim Ferreira manda chamar peritos em carpintaria e pedraria. Numa reunião de Mesa no mesmo ano, estando presente o Eng. Manuel Pinto de Vila Lobos e outros mestres, decide-se examinar as condições da capela. Concluíram destelhar a ermida, tirar madeiramentos, azulejos e toda a ornamentação e escorar as paredes, também de forma a amparar as varandas do consistório,  até que se desse inicio a nova obra.

A 15 de julho de 1716, a Mesa decide reedificar a igreja, mas visto que o Rei decidiu não contribuir para a obra devido a gastos excessivos das Mesas anteriores, fez-se um empréstimo de 3000 cruzados. O projeto do novo templo tinha a autoria do Eng.º militar Manuel Pinto de Vila Lobos e, a 14 de setembro de 1716, foi feito contrato com o mestre pedreiro vianense Jerónimo de Oliveira. A 13 de outubro do mesmo ano há registo de uma carta do Eng.º Vila Lobos a indicar que a capela-mor deveria ter abóboda de cantaria com claraboia.

Em 1718, o edifício propriamente dito da Igreja deu-se por concluído e o mesmo eng.º Vila Lobos fez a primeira medição da obra, sob ordem do Conde de Vila Verde, Governador de Armas e Provedor da Santa Casa. Em setembro do mesmo ano faz-se contrato com o mestre entalhador Ambrósio Coelho para executar o retábulo-mor e tribuna, incluindo as imagens da Visitação e São Joaquim e Santa Ana. Em junho de 1719, fez-se a segunda medição da obra. 

Ainda em 1719 foi tirada a medida da Igreja para apurar os custos de a revestir a azulejos. Depois de informado do valor, o Provedor informa a Mesa e esta decide  consultar por carta os Irmãos “de maior qualidade”, que concordam com a realização da obra. 

Em fevereiro de 1720, completou-se a colocação dos 16.000 mil azulejos da autoria do mestre Policarpo de Oliveira Bernardes. Também por esta altura há registo da compra do arcaz da sacristia em madeira de jacarandá, executado por António Pereira de Matos. Em junho deste ano, é feita a terceira e última avaliação da obra por Vila Lobos. Foram aproveitados os azulejos da antiga capela para o pátio dos claustros, revestimento exterior da cúpula, torre sineira e alpendre das varandas.

Em janeiro de 1721, o Padre Lourenço da Conceição assina contrato para fazer novo orgão de 18 registos, cuja talha ficou entregue ao escultor Pedro Salgado. Em setembro a Mesa mandou pintar o estuque do teto da Igreja a “brutesco” a Manuel Gomes, mestre de Guimarães.

Em 1722, a Mesa decidiu mudar o sítio dos púlpitos, obra a cargo do mestre pedreiro Jerónimo de Oliveira e por esta altura a obra estava concluída, muito embora, como em qualquer casa, há sempre alguma coisa a arranjar e melhoramentos a fazer ao longo dos anos. Foi o que aconteceu à igreja da Misericórdia de Viana, que tem sido conservada e restaurada, sucessivamente, até aos nossos dias, sempre com o compromisso de preservação deste belíssimo património.

Referência: Cronologia da igreja da Misericórdia, da autoria de Paula Noé, 2005, Direção Geral do Património Cultural.

Nota: Este trabalho teve, ainda, a pequena, mas valiosíssima colaboração, da funcionária da Santa Casa da Misericórdia de Viana, Ana Rita Cunha.

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