A carestia que nos oprime

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Gonçalo Fagundes Meira

As guerras, para além do massacre dos povos, destrói economias e inferniza a vida dos cidadãos do mundo em geral. A da Ucrânia, mercê da invasão da Rússia, não foge a esta realidade de sempre. Já se esperava que a criação de novas alianças comerciais, bem como a alteração de mercados e rotas, perturbaria o fornecimento de matérias primas, produtos manufaturados e, consequentemente, de bens alimentares. Contudo, a guerra também é um bom argumento para a especulação de quem está no mundo dos negócios.

Já sabemos que o Complexo Militar Industrial, com a produção de material bélico, tem lucros incomensuráveis, parecendo, no entanto, que são poucos os que não aceitam esta realidade, partindo do princípio de que, sem armamento, não é possível ganhar guerras e defender a liberdade que nos dá vida. Contudo, noutras áreas, não faltam os pouco escrupulosos a ganhar mais dinheiro que aquele que conseguiam quando da guerra nem se falava. Em Portugal, pelo que se vai constatando, também se recorre ao esquema do “safe-se quem puder”. Se olharmos atentamente para a forma como outros países europeus controlam os mercados e a inflação, particularmente em tudo o que é consumível, não é difícil perceber que o fazem melhor do que nós. 

Segundo um trabalho da Deco/Proteste, no período de fevereiro de 2022 ao mesmo mês de 2023, o cabaz de compras (composto por produtos básicos para a nossa alimentação) cresceu 24,4%. No período de um ano, o cabaz encareceu 45,21 euros. Diz ainda o estudo que, enquanto a inflação em geral está em diminuição, a dos produtos alimentares não para de subir. Carne, peixe, laticínios e mercearias, passando pelas frutas, legumes e congelados, nada escapou aos aumentos desenfreados, com valores na ordem dos 20%. Para alguns produtos vegetais como a couve cenoura, alface, cebola, batata e couve flor, o aumento ultrapassou os 50%.

O Governo diz que vai controlar e reprimir abusos, mas a nossa prática de brandos costumes e aceitação fatalística de males diz-nos que os resultados nunca são equivalentes ao ruído. Depois, alguns partidos políticos falam-nos muito em deixar funcionar o mercado e criticam qualquer tipo de legislação para impor regras. Todos sabemos bem do resultado da liberalização do comércio, particularmente ao mais alto nível, e da ausência de regras que gente politicamente simpática defende. Isso está à vista. Sem regras, as sociedades passam à condição de selvas. Até aí estamos suficientemente conversados.

                                                              GFM

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