Tivemos eleições autárquicas; aquelas que, afinal, melhor representam os eleitores. É através delas que elegemos os autarcas que tratam das nossas coisas básicas, que mais interagem connosco e que mais diretamente podem contribuir para a melhoria da nossa qualidade de vida. No entanto, quase metade da população (46,35%) não se preocupou com isso, dizendo claramente que se está “maribando” para a qualidade das vias por onde transitamos; da limpeza, do saneamento e do embelezamento dos espaços que desfrutamos; da criação dos equipamentos desportivos e culturais que afastam os nossos jovens dos centros de vícios; da melhoria e criação de novos estabelecimentos de ensino onde se inicia a preparação das gentes de amanhã, da instalação e melhoria de redes de centros que velam pela nossa saúde; e tantas outras coisas que se torna impossível em tão curto espaço enumerar.
A abstenção, em qualquer tipo de eleições, é um mal que roí a democracia e que pouco dignifica os povos. Cada não votante é um cidadão não participativo na construção da sociedade a que pertence. E só com a participação de todos se constroem sociedades elevadas, onde imperem os mais nobres princípios. Um cidadão não participativo em atos eleitorais está a delegar em terceiros, sem os conhecer, o tratamento dos assuntos que também a si dizem respeito, que é escolher os mais competentes para o exercício de uma governação decente.
Temos que saber conviver com esta realidade de ter metade dos portugueses alheados da sua participação na coisa pública, muitas vezes com o argumento tosco de que cada eleito o que quer é governar-se a si próprio. Mas também temos que partir do princípio de que este é o pior caminho e que, desta forma, temos menos condições para aspirar à criação de um país mais justo para poder legar às gerações futuras. Pode haver motivos de insatisfação, particularmente o de nem sempre os políticos se portarem bem, mas o pessimismo maior só pode advir do nosso imobilismo. Porque também é este, a par dos criticismos mal fundamentados, que leva ao desinteresse dos melhores em se deixarem eleger.
É por isso que aqui se deve saudar todos os que teimosamente dão a cara e aceitam ser candidatos, contribuindo, de uma ou outra forma, para que haja governação a todos os níveis do poder. Pode haver quem o faça por razões menos nobres, mas compete a todos nós fazer a triagem, elegendo os mais aptos, sem descuidar a vigilância para que, os melhores, mais dignos dessa condição sejam e cujo objetivo seja mesmo o de praticar uma governação empenhada, de verdadeiro serviço público.