“A crise da nossa sociedade: de um excesso material à anestesia emocional”

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Já há muito tempo que o nosso sistema de ensino deixou de criar pensadores, mas sim repetidores de ideias.

E o problema é que continuamos a alimentar este tipo de consumo. Se ele ao menos servisse, ainda que de uma forma inconsciente!

Assim como o prazer sensorial momentâneo de comer um almoço numa cadeia fast-food, também os jovens comem conhecimento. Comem, mas não o digerem de verdade. Leem, mas não com olhos atentos. Estudam, mas não refletem. Decoram, mas não duvidam.

Nunca a nossa espécie teve tanto acesso à informação, mas também nunca a nossa espécie se tornou tão vazia de espírito.

Não é isto motivo suficiente de preocupação?

Que sociedade futura estamos nós a criar?

Enquanto não nos consciencializarmos que é urgente inserir nos nossos currículos disciplinas que apelem a uma visão multifocal, a uma visão da humanidade como um coletivo, ao invés de uma individualidade, então estaremos para sempre condenados ao fracasso e ao colapso.

É meu crer que a visão humanista e inclusiva é aquela que cria sonhos, que desperta grandes mentes, que apela a grandes criações e, consequentemente, a grandes pensadores. Está na hora das várias ciências factuais se unirem às ciências sociológicas e perceber que não podemos mais trabalhar em ilhas separadas para a criação do bem comum.

São anos a fio a repetir-se as mesmas coisas. A pôr em prática os mesmos costumes. Não só lhes lançamos as perguntas, como prontamente lhes damos as respostas, e o perigo desta situação é que a mente que não duvida jamais será uma mente livre. E não é desta característica de liberdade que o povo mais se orgulha? Mas saberemos, de verdade, o que é ser livre?

Ser livre jamais poderá significar seguir a manada, ter comportamentos padrão, ser-se egoísta, ser-se emocionalmente débil, escasso e até inconsciente, ao ponto de acreditar que é através da força e do poder que se liberta alguém.

Ser livre é conhecer o amor, é ser-se na totalidade. É entender que somos parte de um todo e que cada um de nós representa uma pequena parte incontestável e inegável dessa totalidade.

Estamos doentes. Mas não só estamos doentes de ideias, como emocionalmente deplecionados.

A injeção do medo, da violência, do egoísmo, da insuficiência, da pressa e da insensibilidade tomou conta das nossas almas, e hoje funcionamos de um modo mais robótico do que aquele que por ventura desejaríamos.

Continuamos iludidos com os bens materiais, com a aparência e com a fama, com o luxo e a sede do poder, cegos pelos desejos submissos que o ego nos impõe. Esquecemo-nos da beleza de um sorriso, da simplicidade de um gesto carinhoso e honesto, da riqueza de um coração bondoso e de uma alma plena e farta.

Rapidamente caímos nas nossas próprias teias ilusórias e ignoramos o facto de que nada levamos connosco. Na terra, apenas deixamos parte de nós. Na terra, apenas fica o nosso legado, aquilo que realmente fizemos para tornar a nossa morada um lugar um pouco melhor.

Está na hora!

Chega de culpados.

Haja a coragem de mudar e a fé de perceber um novo caminho que nos possa despertar para um outro mundo – um mundo onde o amor incondicional sempre existiu em fartura, só que foi posto de lado, assim como o suplente que espera ansiosamente para poder entrar em campo e se revelar.

Afinal, o mundo sempre esperou por Nós…

Natacha Cabral

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