A cultura emana do povo

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Todas as comunidades, independentemente da sua dimensão, têm os seus usos e costumes e cultivam, por vezes de forma intensa, rituais muito próprios. O Alto Minho, e particularmente Viana do Castelo, também não foge a esta filosofia, tendo nas suas Festas a melhor manifestação de apego a velhas tradições. A nossa cidade constitui mesmo um caso muito particular na forma como faz das sua Romaria momentos ímpares de criatividade e realização, de demonstração inequívoca de valores e práticas. Os puristas, por vezes, dizem que festas populares não constituem cultura, esquecendo-se que não há cultura mais representativa que aquela que emana do povo, não omitindo o seu passado, antes o recriando e revivendo com intensidade, acompanhando a evolução natural da vida.

É isso que Viana vem fazendo desde 1772, quando El-Rei D. José autorizou, por Decreto Régio, a realização das Feiras Francas na cidade, enquadradas nas Festividades à Senhora d’Agonia e programadas para os dias 18, 19 e 20 de agosto. Modestas feiras, confinadas aos espaços do campo da Agonia e Jardim de D. Fernando, apenas animadas por uma banda de música na área circundante à capela de fraca ornamentação e modestamente iluminada; associando-se-lhes uma novena, uma procissão e algum fogo de artifício. Já lá vão 250 anos, que se completam precisamente neste mês. A história deste tempo, com mais ou menos pormenor, está feita e o balanço, à luz do que hoje é a Romaria da Senhora d’Agonia, só poderia ser de grandeza.

O que hoje temos em Viana do Castelo é uma Festa pujante, na qual os vianenses se revêm com orgulho e sentimento de honra pelo seu passado e defesa dos seus valores culturais. Ao longo deste quarto de milénio, anualmente, à parte o período pandémico, de tristeza infinita, a cidade soube mostrar-se como foi em cada momento, orgulhosa de si, prazenteira e confiante no futuro. Pode até reconhecer-se que as Festas d’Agonia beliscaram o progresso há muito aqui sonhado, contudo, como diz Moisés Martins nesta edição, Viana cumpre-se em Festa.

Também este jornal encarna, tal como sempre encarnou, este espírito festivo, este sentimento de estar onde o povo está. Daí mais esta edição especial, resultante da contribuição de muita gente de todos os setores da sociedade local, e não só. Ficamos gratos.

Boas Festas da Senhora d’Agonia, nesta Viana em festa.

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