A democracia e os seus valores

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Uma já bem significativa parte da sociedade troça com esta democracia em que vivemos e suspira em cada momento por uma governação disciplinante. Culpa o poder pela sua incapacidade em desenvolver o país para atingir níveis europeus; e lamenta a ausência de políticas para a valorização de áreas de todo conhecidas, como são, entre outras, a saúde, a habitação e a educação. Critica-se os governantes pelo apego ao poder, pelo amiguismo, pelas nomeações encartadas para as estruturas do Estado, etc., atribuindo-se-lhes o desbaratamento dos fundos vindos da Europa que deveriam servir para fomentar o crescimento económico e facilitar a vida dos cidadãos. Já agora, para melhor reflexão, segundo a Kohesio (plataforma online lançada ultimamente pela Comissão Europeia) Portugal é o terceiro país da UE com mais projetos apoiados por fundos europeus desde 2014. 

Sem dúvida, que boa parte desta conjuntura constitui uma realidade que não podemos escamotear, até porque muito aqui se tem apontado esta impossibilidade de fazer de Portugal um país onde seja possível viver com mais qualidade de vida e ausência de pobreza. O que se vem constatando nos tempos mais recentes é uma prova ainda mais evidente deste quadro que a sociedade tanto reprova. A democracia não comporta tudo, antes pelo contrário. O poder de um estado democrático, para além de ser promotor das liberdades mais elementares, estabelecer a alternância de poder em eleições livres e suficientemente escrutinadas – reconhecendo-se-lhe mesmo o direito de involuntariamente errar – deve, acima de tudo, primar pela clareza de princípios, respeitar escrupulosamente o dinheiro dos contribuintes e promover a competência a todos os níveis.

Infelizmente assim não é, e as trapalhadas que temos vindo a observar nos últimos dias, particularmente com a gestão de uma empresa emblemática como é a TAP, há décadas abundante em casos de arrepiar, com avultadíssimos prejuízos para o erário público, diz-nos que o caminho desde há muito percorrido persiste em continuar. Mas a democracia, se há quem teime em não a respeitar, permite-nos, a nós povo, exigir que a respeitem. Num Estado democrático tudo se vai sabendo, tudo se pode criticar, e de governo também podemos trocar. Em democracia o poder está nas nossas mãos, desde que responsáveis, criteriosos, participativos e justos. Contrariamente, o poder absoluto que alguns vêm advogando, mais não pretende do que fazer de nós marionetes e pobres serventuários desse mesmo poder. Sobre isso estamos conversados. 

GFM

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