A democracia não se lamenta. Reforça-se

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A invasão dos centros do poder há dias acontecida no Brasil não constitui, de todo,  surpresa, já que há dois anos caso idêntico se tinha verificado nos Estados Unidos. No entanto, existem razões para preocupações com as fragilidades que a democracia manifestamente apresenta. Observadores bem colocados têm vindo a alertar para o risco que os estados democráticos correm de serem governados por tiranetes, já que a democracia faz pouco para ser um sistema coeso e imune a golpes traiçoeiros, como mais este verificado. 

O sistema democrático não é perfeito, mas apenas o melhor; o que mais garantias dá da vivência em liberdade e da governação das nações sob escrutínio das populações. Sistemas perfeitos não há, por mais que os procuremos. A alternativa à democracia é a ditadura, mais ou menos musculada, mas que nunca passa de um sistema supressor das liberdades fundamentais. Daí que só tenhamos que trabalhar para proteger de tentações os que por má formação só sabem governar com recurso a leis cerceadoras dos elementares direitos dos governados, fazendo destes gente amorfa e limitada a aceitação da ordem imposta.

A maior fragilidade da democracia é ser permissível aos que, não tolerando este sistema, ganham eleições. E muitos o conseguem. O extremismo não é de hoje, e não é necessário percorrer muito a história para o constatar. Hitler chegou ao poder em eleições democráticas nas quais a Alemanha livre lhe permitiu participar. Extremistas, fanáticos e semelhantes, sempre os houve e continuará a haver; o que é preciso é saber lidar com cada um, sem usar as armas que eles usam quando alcançam o poder, antes isolando-os, porque portadores dos piores instintos.

A democracia tem, porém, outras fragilidades, visíveis em boa parte dos países, particularmente a baixa participação dos cidadãos na vida pública, deixando para os governantes todas as responsabilidades que, tantas vezes, bem mal as assumem. Ora um estado democrático só pode ser coeso e bem defendido se for suficientemente participado na sua vivência. 

Portugal tem muitos e delicados problemas, que o tornam numa nação com insuficiências pouco próprias de um país europeu. Apesar de tudo, pelo que vamos vendo, só podemos constatar que somos um Estado que acolheu bem, e respeita, o estado democrático. Em Portugal dificilmente acontecerá o que vimos no Brasil, no domingo passado, e nos EUA há dois anos. Contudo, isto não é suficiente. Temos que ser mais guardiões da liberdade que conquistamos há quase meio século. E isso só se consegue com mais e mais cidadania.

                      GFM

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