O Governo está a procurar adotar medidas no sentido de estancar a saída de jovens quadros do país. Entre outras, para os estudantes do ensino superior público, propõe-se devolver as propinas pagas (cerca de 700 euros) por cada ano de trabalho em Portugal. Há mais medidas previstas para outras modalidades e jovens em níveis de formação inferiores, mas isso é assunto para outras abordagens.
Hoje não temos a emigração de outros tempos, particularmente a verificada na década de 1960, em especial para França. Aí, os que partiam era gente pouco qualificada, que emigrava para, em boa medida, fazer o trabalho que os naturais dos países de emigração estavam pouco interessados em fazer. Era gente que apenas queria ganhar dinheiro suficiente para organizar a sua vida em Portugal e voltar para gozar uma velhice com tranquilidade mínima. Era uma emigração que até convinha ao Governo de então – apesar da existência da guerra colonial – porque ajudava a fazer o equilíbrio das contas públicas, dado o envio regular de dinheiro resultante das poupanças dos emigrados, que não era pouco.
Hoje, esse tipo de emigração é quase residual. Segundo dados da “Pordata”, em 2014, dos que emigraram, 29% tinha como nível de escolaridade o ensino superior, mas, em 2021, esse número aumentou para 47,6%, um crescimento de cerca de 60%. Os números não iludem e provam que Portugal está a formar quadros para países que deles necessitam, como é o caso da Inglaterra, com um déficit acentuado, particularmente na área da saúde. Portugal também desta mão de obra qualificada carece, simplesmente não dispõe das condições de outros para aqui a fixar. Concluiremos, portanto, que estamos condenados a contribuir relevantemente, com pesados custos, para ajudar países estranhos a desenvolverem-se, fazendo antigamente o trabalho penoso e hoje o trabalho qualificado.
Não é difícil compreender que só se emigra para amealhar e criar melhores condições de vida ou porque Portugal não dispõe de condições mínimas para remunerar condignamente quem trabalha. E não há condições porque continuamos a ser um país de crescimento lento, porque mal-organizado e com poucas ideias em relação a projetos de futuro que nos tragam satisfatórios índices de desenvolvimento. Não resolveremos o problema com medidas de cosmética, como preconiza o governo. E, pior, é que estamos perante uma conjuntura pouco favorável para invertermos este quadro, fundamentalmente pelo elevado nível de envelhecimento da população.
GFM