A Festa da Mimosa em Viana

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Viana dispõe de beleza e encantos que ninguém no país, e um pouco pelo mundo inteiro, deixa de lhe reconhecer. O seu enquadramento entre o rio, o mar e o monte dá-lhe lindeza que a qualifica como de encanto. Pena que não se tenha sabido explorar estas características de que foi dotada pela natureza e que satisfatoriamente soubemos proteger. Por vezes houve esforços e iniciativas que, infelizmente, acabaram por não se afirmar.

Entra outras tivemos a Festa da Mimosa que se realizou ao longo de 21 anos (1968/1989), uma aposta de quem tinha a responsabilidade de dinamizar o turismo da região. Tratou-se de uma evento que alguns consideravam como o segundo melhor, depois das Festas d’Agonia. Em 1973, Matias de Barros, no seu livro “Viana do Castelo – Capital do Alto Minho” apresentava-a como festa-nova com o nome de “Acácia cor de ouro”, que foi criada pela Comissão Municipal do Turismo, respondendo à sugestão apresentada pela imprensa local e que rapidamente se tornou em iniciativa turística de algum relevo.

Dizia Matias de Barros que “não é fácil fugir-se ao sortilégio de um dia domingueiro passado junto do rio e do mar, com a montanha e o arvoredo balsâmico a servir de regaço e teto. Viana do Castelo oferece essa panorâmica excecional e esse regaço apetecível”. Depois aludia que Viana dispunha de um bom lote de hotéis e de restaurantes que garantiam refeições agradáveis e não excessivamente dispendiosas, onde o marisco, a lampreia, o sarrabulho, o cabrito, o bacalhau de cura amarela, o arroz doce, a doçaria e os vinhos alvarinho, branco, de Monção, e tintos de Ponte da Barca e Ponte de Lima, que constituíam motivos de agrado e confraternização aliciantes. Matias de Barros referia, particularmente, o monte, densamente arborizado, onde as velhas acácias se cobriam de aveludados cachos de douradas flores de mimosa que ficavam à mercê de quem passava, onde a festa atingia o seu ponto mais elevado, dado o quadro belo em que se constituía toda a montanha. 

Grande parte dos vianenses bem se lembram desta festa, que se realizava nos últimos dias da terceira semana de fevereiro, e que tinha mais ruído do que grandeza de programa. Na verdade, até Viana vinha muita gente, que subia o monte, enfeitava as viaturas com ramos de mimosa e participavam nos espetáculos, que normalmente se realizavam no segundo dia da festa, domingo, na Praça da República, onde predominavam os grupos folclóricos.

Naturalmente, no dia mais festivo, porque domingueiro, acorria muita gente à cidade e é natural que o comércio, e particularmente a restauração, daí retirassem algum proveito, mas o mesmo se pode dizer de um qualquer evento que seja suscetível de trazer forasteiros à urbe, tantas vezes por mera curiosidade e não tanto pela dimensão do evento.

Segundo Pedro Gomes, em trabalho publicado no jornal Público (22/02/2004) a acácia, importada pelos Serviços florestais portugueses, particularmente da Austrália, tornou-se rapidamente um caso de sucesso pelo seu rápido e seguro crescimento em solos de todo o tipo, com vantagens, em especial, na proteção de dunas, mas perigosa porque rapidamente sufocava as espécies autóctones, passando por isso à condição de vegetação proscrita, por isso não aconselhada, ou, no mínimo, devidamente motorizada, com fins limitativos. É mais por esta razão que a Festa da Mimosa deixou de acontecer. Para uns bem, para outros mal, já que um mal nem sempre é de combater com soluções radicais.

O Centro de Estudo Regionais (CER) vai levar a cabo no dia 15 deste mês, na Biblioteca Municipal, um debate sobre o assunto. Será, provavelmente, uma boa oportunidade para fazer luz sobre a “famigerada” mimosa. Aguardemos.

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