A Guerra Colonial

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Da guerra colonial muito se fala, muito se conta e muito se opina. Pena é que, depois de terminada, nunca tenha merecido, por parte dos sucessivos governos do país, uma análise serena, no sentido de remediar os males de que foi causadora. Eu também fui um combatente desta guerra que hoje se entende como desnecessária e injusta. Eu também sofri, física e emocionalmente, em longas e penosas patrulhas por espaços sempre perigosos e traiçoeiros, procurando o que me diziam ser o inimigo. Também, por isso, sofri o cansaço de dias seguidos no mato e, pior, também carreguei colegas mortos nos braços.

A nossa guerra não era só de tiros e minas que explodiam regularmente nas picadas, outras coisas dolorosas aconteciam.  As operações de três dias, das quais se esperava sempre o pior, já que cada saída, para todos, poderia não equivaler a uma entrada em igualdades de circunstâncias. O regresso poderia ser com alguns deitados para sempre ou em número mais reduzido, porque outros poderiam ter sido evacuados para que se lhes tentasse salvar a vida. Eram três dias de desgaste físico e psicológico, de roupa molhada no corpo, de medo – sim porque ninguém afasta o medo de si próprio – e de sentimento de ódio, que não se sabia a quem o dirigir.

É justo hoje perguntar de que valeu tudo isto. O que fizeram os governos para reparar todos estes males causados. Vai-se falando, de longe em longe, nos combatentes da guerra colonial, mas pouco se vai além disso. Já sabemos que nunca há reparações justas para os que foram vítimas de conflitos armados, mas também não é com a atribuição de esmolas que se dignifica quem foi empurrado sem querer para uma guerra que hoje, sabemos bem, não teve sentido nem lógica. As guerras são todas injustas, mas umas bem mais injustas que outras.

      Fernando Sá

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