A Igreja e as suas crises

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Gonçalo Fagundes Meira

Perturbante e grave para boa parte da sociedade, o assunto envolve delicadeza suficiente para dele não haver vontade de falar. Contudo, não é fugindo aos problemas que ajudamos a construir comunidades melhores. Daí a nossa obrigação de não omitir questões. Julgamos, porém, que tal deve acontecer com a serenidade e o pragmatismo que as delicadas matérias exigem, porque só assim se pode contribuir para erradicar males e aprofundar virtudes.

O problema do abuso de jovens e menos jovens no seio da Igreja (em todo o mundo) não é de hoje. É bem antigo, e o Papa Francisco já a isso se referiu de forma condenatória e sem fugir à complexidade da questão. Por este supremo dignitário da fé católica apontar caminhos novos a uma igreja deles carecida, é que se sabe hoje o que para muitos já não era segredo. O que não se conhecia era a dimensão do assunto, mas também não chegaremos lá, porque não faltarão vítimas a querer esquecê-lo.

Importante é saber porque tudo isto aconteceu para que os males possam ser erradicados. Não menos importante, ainda, é não querer reconhecer que um Ser Humano é, em todas as situações, um ser de muitas imperfeições, independentemente do seu estatuto. Seres verdadeiramente perfeitos dificilmente os haverá. Perante esta realidade, só podemos minorar danos criando as condições para que os defeitos não tenham vida ativa. Por exemplo, impor clareza nas práticas, evitando funcionamentos não sujeitos a juízos superiores. Perante as leis que regem as sociedades, todos devemos ser iguais.

Mas a Igreja – por mais que se compreenda o seu inegável valor nas sociedades, fundamentalmente na valorização cultural e humana de cada ser – continua a cultivar uma prática que não a harmoniza com a vida, que é a sua imposição celibatária a quem a serve. Quem defende a instituição família como grande princípio da valorização e unidade das pessoas, não pode negar a existência desta no seu seio. O sentimento família é um dos valores que mais profundo toca o Ser Humano; e que mais habilita este no respeito e defesa do seu semelhante, independentemente de qualquer condição.

As entidades vão-se movendo no caminho da valorização, mas, em tantas questões fundamentais, são demasiado lentas, por força de conservadorismos antinaturais. Não se pode ser conservador quando esta prática é perniciosa no aperfeiçoamento dos contextos em que nos inserimos. A Igreja tem que remediar males que a desacreditam. Para isso, se quer assumir com elevação o lugar que lhe cabe na sociedade, tem que dar passos suficientemente ambiciosos para que isso seja possível.

    GFM 

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