Foi na 2º metade do século XIX que o rei D. Pedro V defendeu que o traçado ferroviário mais próximo da fronteira francesa era aquele que passava por Vigo. Isto é, referia-se à imperiosa necessidade da construção da Linha do Minho. Tal como então, essa visão continua atualizada e deve ser defendida. De facto, as previstas tonelagens de mercadorias a serem movimentadas por via férrea no mercado intracomunitário (mais de 10 milhões ton/ano) exigem uma descentralização de canais – Sul, Centro e Norte ( por Porto/Viana/ Valença).
Em boa verdade a distância ferroviária do Porto a Irun pela Linha da Beira Alta é quase idêntica à que vai pela Linha do Minho, passando por Vigo/Ourense/Leon/Palencia/Irun. Mas não chega pensar no transporte intracomunitário, importa salientar a necessidade de promover uma flexibilidade dos meios de transporte no que à INTERMODALIDADE diz respeito, em particular no que envolve a ferrovia e o transporte marítimo de curtas distâncias, incluindo o fluviomarítimo (leia-se o transporte através das grandes estradas fluviais da Europa), processo do qual o porto de Viana não deve ser arredado.
Veja-se, por exemplo, que atualmente estão a ser transportados por comboio automóveis da Autoeuropa Setúbal para Leixões, que, também, poderiam ser encaminhados para o porto de Viana se …
A Linha do Minho, o ramal ao porto de mar e às zonas industriais
Trata-se de CAPILARIZAR a ferrovia, como recomendado pela UE:
“… é fundamental desenvolver os terminais e as linhas no hinterland associados às indústrias e aos centros logísticos que interagem com os portos.”
“Os portos são os parceiros privilegiados da ferrovia de mercadorias”.
É com base neste contexto, que dei comigo a sonhar ter nascido no nosso concelho de Viana do Castelo um ramal ferroviário conectando diretamente as zonas industriais de Lanheses e de Deocriste ao porto comercial e com ligação à Linha do Minho. As razões para tal são várias. Explicitemo-las sinteticamente.
Primeiro, a atual situação geopolítica mundial empurrou a União Europeia a olhar para a sua Defesa com redobrada atenção. Nesta perspetiva, Portugal com uma enorme frente Atlântica, a que acresce uma muito provável Extensão da nossa Plataforma Continental para quase 4 milhões de Km2, surge com especiais responsabilidades na defesa marítima. Ora, isso determina que ao principal estaleiro de construção naval do país, o de Viana do Castelo, sejam atribuídas especiais responsabilidades numa dinâmica de construção, o que inevitavelmente obrigará a uma sua expansão, levando-o à necessidade de recuperar áreas de terrapleno.
Segundo, é um facto que o cais do Bugio não tem capacidade de acolhimento do E-ship 1 por via do calado, pelo que a Enercon se vê constrangida a complexos movimentos de transporte para deslocar para o porto comercial de Viana ou, muito especialmente, para Leixões, significativa parte da sua produção. Assim, parece-me natural a deslocalização das suas fábricas do Bugio para Lanheses, onde já possui parte importante do seu aparelho produtivo, desde que lhe sejam facultadas boas condições logísticas (entenda-se ferrovia).
Diga-se que o “Parque Industrial de Lanheses alargado” tem excelentes condições para se posicionar como um importante polo de acolhimento de empresas geradoras de produção “pesada”.
Terceiro, não faz qualquer sentido que a fábrica de papel de Deocriste continue a fazer em Darque transbordo de MP’s de pinho para a sua fábrica, bem como fazer o transporte das suas bobines de papel para o porto comercial por camião.
Enfim, como diz o nosso grande Fernando Pessoa: “Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce” !
Virgílio Dias