A má gestão da propaganda

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Miguel Sousa Tavares costuma dizer, com alguma lógica, que por vezes o melhor da televisão é a publicidade. Tenho critérios próprios sobre matéria publicitária e a sedução pelo que nos é sugerido muito pouco me toca. Contudo, não deixo de reconhecer que há anúncios de produtos onde a criatividade é manifesta, a demonstrar que temos bons criadores, bons designers e bons produtores artísticos.

O cartaz é outro instrumento de propaganda onde a imaginação se pode evidenciar. Vem de tempos a sua produção. O Estado Novo, através do SNI, pela mão de António Ferro (1895/1956), para promover o regime e o país produziu cartazes que hoje são considerados preciosidades. É um encanto olhar os concebidos por Almada Negreiros e outros grandes artistas, independentemente do interesse da mensagem propagandeada.

Não menos encantadores são os dos vinhos Ramos Pinto, no mercado desde 1880. “Os Vinhos do Porto de Adriano Ramos Pinto dão alegria aos tristes e audácia aos tímidos”, diz um dos mais antigos cartazes deste produtor, com recurso, como muitos outros, ao elemento feminino em poses sensuais.

A revolução de 25 de Abril de 1974, com a instalação da liberdade e a criação de organizações múltiplas, em especial os partidos políticos, fez do cartaz um elemento de uso corrente. Tudo começou com muito improviso à mistura, mas a aposta regular neste suporte propagandístico fez imperar a qualidade, particularmente no arranjo gráfico. Hoje, com características bem diferentes do que antigamente se fazia, temos cartazes de superior qualidade, produzidos por designers que são já referência extrafronteiras.

Porém o uso do cartaz, independentemente do tipo e formato, tem obrigatoriamente que ser bem gerido. E aqui quase ninguém cumpre regras mínimas. Os partidos políticos, então, são uma vergonha. As últimas eleições aconteceram a 6 de outubro passado, mas não faltam no espaço urbano cartazes a anunciar candidatos e propostas como se o ato eleitoral não tivesse já decorrido. Nos mupis (mobiliário urbano para a informação) distribuídos pela cidade, uma das faces, a menos visível, está ao serviço do Município.

Acontece que boa parte das mesmas estão a anunciar iniciativas que já aconteceram há larguíssimo tempo, algumas há anos. Assim não se faz boa informação nem se respeita os elementos informativos no que eles tem de melhor, que é a conceção e a mensagem.

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