Das janelas brancas de bandeira da casa verde apalaçada, saíam frinchas de luz iluminando debilmente as japoneiras em flor. O cheiro verde das prímulas anunciava a Primavera. Um gradeamento bem trabalhado, entrelaçado de rosas, enfeitava o portão branco aberto de par em par. O vestido, évasée, tinha cor de canela e manga curta. Com o decote em barco e uns tomados na saia fazendo feitio, pespontados a castanho, enfeitava o seu corpito de tenra idade, como se de uma flor se tratasse.
Calçava nos pés os primeiros sapatos de tacão, não muito alto, brancos e aos buraquinhos.
Na mão pendurava um porta-moedas contendo um lencinho bordado pelas artes primorosas da mãe. A fantasia, o encanto do despertar e o desabrochar dos sentimentos deslizavam no luminoso salão envernizado. De um lado as meninas, sentadas, do outro lado os rapazes, à espera dos primeiros sons, ora mais limpos ora mais engasgados da grafonola.
Rodopiavam as valsas, cruzavam-se os tangos em largas passadas ou atreviam-se os pasodobles a ritmos mais lentos e ousados.
A menina dança?
Pairava no ar o delicado cheiro à primavera desta idade, perfumando o sonho de algum encontro para a vida inteira.
Na longínqua memória, apenas a saudade dos dezasseis anos, vestidos cor de canela e brilhando na luz mágica da casa verde.
Eva Cruz