A minha pátria é a língua portuguesa

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António Pimenta de Castro

Disse o poeta que “a minha pátria é a língua portuguesa”. Concordo totalmente com ele. A grandeza de Portugal está sobretudo na sua língua, falada nos quatro cantos do planeta, com variantes locais que lhe dão mais sabor e encanto.

A par da História, é a língua de Camões a grande riqueza que ficou da nossa gesta dos Descobrimentos. É aí no Brasil, em África, em Timor, em Macau, enfim por esse mundo fora que devemos “investir”, pois só aí somos grandes. A língua que levamos nas caravelas aos quatro cantos do mundo, ali se enriqueceu. Ao som dos batuques, tornou-se africana e crioula; no imenso “Reino dos Brasis” tornou-se mais doce. É esta, talvez, a maior riqueza da nossa língua, que, tal como o povo português, soube adaptar-se aos diferentes climas e às diferentes etnias. Se juntarmos à mesma mesa um cabo-verdiano, um açoriano, um habitante de São Tomé e Príncipe, um timorense, um português continental, um madeirense, um angolano, um moçambicano, um macaense, todos eles falam a língua de Eça de Queiroz, enriquecendo-a com novos vocábulos, com sotaques doces e morenos, com novos conceitos, enfim, tornando-a universal.

É esta a maior herança dos Descobrimentos. É esta a nossa grande riqueza. É este o nosso “Quinto Império”. Portugal só foi grande pela sua História e pela sua língua. Só continuaremos a ser um “país grande” pelo nosso idioma, não tenhamos a menor dúvida. É aí que devemos investir.

Num desses encontros em que participei, a brilhante poetisa Olinda Beja, que nasceu em S. Tomé e Príncipe, falou-me, muito triste, que os franceses então a investir a sério na educação do seu país e a divulgar naquelas ilhas o francês. Criaram até institutos de língua francesa para que a juventude comece a falar o francês e, a médio ou longo prazo, deixe de falar o português e comece a falar a língua de Victor Hugo.

Os territórios onde atualmente se fala português vão sofrer “ataques”, no sentido de falarem francês ou inglês. Por isso, devemos investir na preservação e divulgação da nossa cultura nos Palops, no Brasil, em Timor, em Macau, etc., porque não só não podemos “perder” a nossa História como, e sobretudo, não podemos deixar que esses povos troquem a língua de Camões pelas “novas” línguas que investem na sua divulgação, porque são países ricos e sabem que a língua é o maior tesouro de um povo e que ela é a melhor “chave” para entrar nesses territórios e “apanhar” as suas riquezas.

A nossa maior riqueza é um Mia Couto, um Jorge Amado, um Fernando Silvan (nascido em Timor), ou seja, os escritores de língua portuguesa, que não sendo portugueses, se expressam através da nossa língua. E é lindo, quanto gosto de ouvir…, o português falado em tons de pele morena, em crioulo, na doce pronúncia dos sertões e das grandes metrópoles brasileiras, na mata africana, falado por um “chinês” (de Macau), ou por um habitante de Goa, enfim, pelos quatro pontos do mundo repartidos. É aí que eu pergunto e dou a resposta como o poeta: «Valeu a pena? – Tudo vale a pena, se a alma não é pequena!».

E a alma portuguesa é grande! E nossa alma é a nossa língua! Ainda como o poeta, dizemos: “falta cumprir-se Portugal”, ou seja, falta “investir” na nossa língua, falta estudar e divulgar a língua de Camões, falta “sabermos” ser herdeiros do Império. Não sou saudosista do passado. Este Império de que vos falo não é um Império “material”, é a nossa cultura e, sobretudo, a nossa língua.

Deus permita que saibamos ser herdeiros da nossa História.

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