A morte no aparo da caneta

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Gonçalo Fagundes Meira

Escrever é um exercício arriscado, particularmente quando se abraça a carreira de profissional da comunicação. Compor umas crónicas leves e simpáticas até pode ser agradável e proporcionar satisfação pessoal, para além de facilitar o esbatimento de divergências de opinião e a criação de novas amizades. Mas isso não pode ser confundido com a condição de jornalista a tempo inteiro; e por inteiro.

Para além de ter habilitações próprias, a par de um forte inclinação para a função, a um profissional de imprensa impõe-se-lhe seriedade, determinação e independência em relação a todo o tipo de poderes, paralelamente a uma boa dose de arrojo. Felizmente, no mundo inteiro, não faltam bons profissionais na área do jornalismo para fazer o que é a sua obrigação: informar com seriedade, sem nunca abdicar de apreciação própria entre o bem e o mal. Escrever sobre um crime, independentemente do seu tipo, não manifestando repúdio pelo ato, mesmo que implicitamente, não é praticar bom jornalismo.

Os bons e corajosos redatores sabem disso e assumem-no. Daí que sejam continuamente acossados, ameaçados e até liquidados por poderes políticos, económicos, de seitas e outros. Segundo o relatório dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), no ano de 2019, foram mortos quarenta e nove profissionais de imprensa. Mesmo assim, diz a RSF, um número baixo, se comparado com a média de 80 mortes por ano registadas nas últimas duas décadas. Até nos países pacíficos e tolerantes o número de mortos em 2019, tal como no ano anterior, atingiu a dezena. Perante estes valores, o que se pode concluir é que o jornalismo é demasiado incómodo, daí o ódio a que está sujeito, especialmente pelo mundo do crime e por aqueles que querem à viva força ganhar o poder ou perpetuar-se nele, independentemente do espaço político em que se alinham ou proclamam alinhar-se.

Culpar, injuriar e perseguir órgãos de comunicação social e os redatores responsáveis pelos conteúdos que lhe dão vida é uma constante que nem sequer se disfarça. Veja-se o que vem acontecendo nos EUA e no Brasil. Isto com a agravante do recurso permanente às fake news (notícias falsas) através das redes sociais, por parte dos detratores da livre imprensa, numa despudorada manipulação de consciências.

A liberdade de imprensa é um dos mais sagrados direitos dos povos. Com uma imprensa manietada e sem jornalistas verdadeiramente livres não passaremos de sociedades sitiadas, sujeitas ao arbítrio e sem vida social.

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