A minha casa encontra-se vaga, não há luz, todo o espaço onde me encontro foi consumido pela sombra gélida de inverno que aos poucos invade minha alma e me esvazia a mente. Pouco de mim tirou a noite, não sou sábio nem nunca serei, sábio é Mímir que bebe do poço do conhecimento enquanto o meu está vazio e nada tem para me oferecer. Assim existo, sob um profundo manto que me esconde da realidade que tudo diz ao olhar de um cego mas nada me diz.
Lá fora nunca estou sozinho, acompanham-me na infinita esfera celeste as estrelas, entrego-me a elas como de tudo se tratassem e elas entregam-se a mim mesmo eu sendo o nada. São estas que transpiram a paixão e lealdade pela vida não guardando qualquer rancor. Dagr retira de mim a visão e Nótt desvenda-me para mais um apreço que é refletir o brilho das suas células no meu coração.
Eu não existo. Junto do céu escuro que devora os campos e as cidades torno-me pequeno, tão pequeno como uma garrafa em águas perdida que dentro transporta um pedido de ajuda de alguém tão minúsculo como eu. A verdade é que nós não existimos, existimos apenas nas nossas cabeças que nos fazem sentir a vida, no entanto, a vida não somos nós nem o que vemos mas sim tudo o que não conseguimos alcançar, porque tudo o que nos é até hoje intocável permanece puro e a vida é a própria pureza retratada no universo.
Mímir – Na mitologia nórdica, Mimir é o mais sábio dos deuses nórdicos.
Dagr – Na mitologia nórdica, Dagr ou Dag é a personificação do dia.
Nótt – Na mitologia nórdica, Nótt é a personificação da noite.
Rúben Batista