A nossa cidade de Viana

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A. Lobo de Carvalho

Independentemente das cores políticas que têm governado o território municipal, é de reconhecer o empenhamento de todos os executivos visando modernizar a cidade e as freguesias, o que, aliás, é sua obrigação, visto que para isso foram eleitos. Assim, com maior ou menor dinamismo, e face aos orçamentos possíveis, o concelho tem progredido, com a sua capital a oferecer um ambiente saudável e acolhedor. Todavia, nem tudo são rosas.

Demorou-se qualquer coisa como cerca de vinte anos para demolir o prédio Coutinho, tendo os trabalhos decorrido com eficiência. Não se registaram acidentes pessoais, os antigos moradores foram realojados, uns a contragosto com lutas ferozes na Justiça até esgotarem todos os meios, e outros mais conformados com a situação. Um problema complicado que, finalmente, teve o seu epílogo.

Porém, o projecto do mercado municipal para ocupar o espaço do referido prédio mantém-se arrumado numa gaveta, já que não se vislumbra qualquer movimento para se iniciarem os trabalhos do novo equipamento, tão sonhado por uns, tão publicitado por outros, mas absolutamente necessário. Será que não há verbas para arrancar com as obras, ou terá tal projecto caído no esquecimento e, porventura, estar a ser considerada outra alternativa? É que, em política, o que hoje se diz pode não ser verdade amanhã. E sabemos como são voláteis as promessas e juras de amor no calor do auge da excitação. Sim, porque a excitação socialista sobre esta matéria esteve sempre em alta, mas, de repente, parece ter desaparecido. Julgo que a Câmara Municipal deveria prestar informação pública sobre o que afinal está a travar a construção, para que os munícipes fiquem esclarecidos e evitar especulações desnecessárias.

Seja como for, a demolição do prédio deixou a descoberto um borrão feio e sujo, que fere o equilíbrio visual daquela zona. Esse borrão, constituído por construções velhas e podres, situadas entre a capela de S. Bento e a capela das Almas, no Largo Frei Gonçalo Velho, desqualifica o conjunto edificado existente, projectando uma imagem muito degradante para quem, nas proximidades ou no jardim, pretenda descansar os olhos na envolvência ambiental. A capela das almas, pelo seu passado, merece, pelo menos, uma pintura; o imóvel onde funcionou um bar e sala de convívio dos trabalhadores dos antigos estaleiros navais apresenta uma imagem feia, suja e de abandono; um prédio residencial antigo, de requintada construção, com estatuetas, grandes portas-janelas e varandas, mete dó no estado que em que se apresenta, parecendo estar a desfazer-se, tal é o seu estado de deterioração. Há, ainda, uns barracos onde outrora funcionou uma garrafeira, que estão também em plena decomposição. Tudo isto dá uma imagem negativa daquela zona, situação que poderia ser modificado se, eventualmente, a autarquia interviesse junto dos proprietários.

Mas não é tudo. O castelo de S. Tiago da Barra    uma joia da cidade  -,  construído há séculos, encontra-se recuperado e funcional no seu interior, só que a sua muralha exterior, repleta de musgos, ervas daninhas e outras plantas, oferece ao visitante um aspecto de desleixo que deveria ser urgentemente corrigido e, deste modo, honrar-se a sua História e a História da nossa cidade e de Portugal, pois cada bloco de granito que compõe a sua estrutura é um testemunho do nosso passado enquanto nação. Devolver à muralha um visual limpo e cuidado é contribuir para afirmar Viana como cidade que se preocupa com a sua cultura e se orgulha do seu passado.

Não curei de me informar a que entidade pertence a sua conservação, mas o que não há dúvida é que este monumento merece ser recuperado na sua imagem exterior. Lembro-me que, talvez há cerca de vinte anos, um presidente da Câmara Municipal de Valença mandou limpar a muralha exterior daquela cidade, uma muralha bem extensa, tendo reassumido um aspecto magnífico, atraindo a visita de muitos turistas que, antes, por ali passavam e não lhe davam grande importância.  

Devemos seguir os bons exemplos e penso que o património antigo, que contém grande parte da nossa História enquanto povo, deve ser escrupulosamente conservado, à semelhança, aliás, do que se passa noutras localidades do país e no estrangeiro.

A propósito, numa viagem por Espanha e França, foi com agrado que reparei na imagem dos monumentos e os cuidados na sua manutenção, tais como catedrais, castelos, palácios e palacetes, onde tudo se apresentava ao visitante devidamente conservado e isento de vegetação invasora. Seria bom que Portugal seguisse este exemplo, porque é com tristeza que se encontra tanto património histórico degradado e algum já sem recuperação possível. No caso do território vianense, a Câmara Municipal, enquanto máxima entidade administrativa, deveria investir neste particular aspecto, já que, ao fazê-lo, traz o seu nobre passado para o presente. E quando digo investir, quero significar políticas não só para este sector do Estado, mas também para os particulares que, porventura, poderão não dispor dos recursos necessários para recuperarem imóveis com valor histórico. Com tantos biliões de euros já recebidos de Bruxelas e outros a serem recepcionados oportunamente, bem que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) poderia ter contemplado verbas com este objectivo histórico-cultural e patrimonial. A não ter sido assim, é uma grande oportunidade perdida.

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