A nova sinodalidade eclesiástica (2)

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Como escrevíamos em artigo anterior, o objetivo da nova sinodalidade eclesiástica, conforme o seu Documento Preparatório (DP.), é o de «imaginar um futuro diferente para a Igreja e para as suas instituições» (DP. nº 9), «encontrar as razões para voltar a fundar o caminho da vida cristã eclesial» (DP. nº 7). Este objetivo é quase dizer que a Igreja anda desencaminhada, tem de encontrar um futuro diferente e refundar-se. 

Tal objetivo é reforçado com outras expressões fortes do mesmo documento preparatório. Assim, diz-nos que «não consiste em produzir documentos», mas em «fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança…aprender uns com os outros e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes…» (DP. nº 32). E concretiza: «a sinodalidade é muito mais que a celebração de encontros eclesiais…ou uma questão de simples administração da Igreja», «indica o específico “modus vivendi et operandi” – o modo de viver e de atuar- da Igreja» (DP. nº 10). Trata-se de «viver um processo eclesial participativo e inclusivo de cada um e particularmente dos que se encontram à margem» (DP. nº 2).

Um tal objetivo deve sensibilizar qualquer pessoa para quem Jesus de Nazaré e a sua mensagem têm sentido e que pretenda ver cada cristão conformar-se com essa mensagem e testemunhá-la com autenticidade, esteja ou não à margem da Igreja. A Igreja tem a responsabilidade de criar as condições de participação de quem quer que seja, porque «todos estão convidados a falar com coragem e parrésia» (DP. nº 30). 

O Documento Preparatório, logo no início (DP. nº 2), traz uma interrogação fundamental: «como se realiza, hoje…aquele «caminhar juntos»? – À interrogação, seguem-se uma série de indicações, consideradas «principais, que enunciam a sinodalidade como forma, como estilo e como estrutura da Igreja».

A primeira das indicações, sem dúvida a mais importante, a fundamental, é «fazer memória do modo como o Espírito orientou o caminho da Igreja ao longo da história». Isto quer dizer que é fundamental, por coerência e autenticidade, ir ao modelo originário de comunidade cristã, aos critérios originais do Caminho. Em coerência, será também fundamental confrontar os descaminhos históricos e os descaminhos do presente com os critérios originários. A reflexão histórica torna-se, por isso, indispensável. O cristianismo é um facto histórico, vem-se realizando historicamente, com maior ou menor coerência e autenticidade, convertendo a perversidade humana ou deixando-se corromper por ela.

Analisando a história do Cristianismo, segundo os seus critérios originais (evangélicos), podemos distinguir nela três tempos. Um primeiro tempo, o originário, o da presença histórica de Jesus de Nazaré. Um segundo, o apostólico, corresponde ao da formação das comunidades originárias, pelo testemunho dos apóstolos e dos cristãos que conviveram com Jesus. Corresponde aos dois primeiros séculos do cristianismo. O terceiro, o eclesiástico, de hegemonia de uma elite teológica e hierárquica, de prestígio cultural e social, que se hierarquizou e se sacralizou, dominando as comunidades. Sem fundamento evangélico, a Igreja foi, então, dividida em dois estatutos, o clerical e o laical. 

Em próximos artigos, se concretizarão melhor estes três tempos.

José Veiga Torres

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