A ourivesaria Popular do Norte de Portugal e a sua Vivência em Viana do Castelo

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Rosa Maria Mota começou a frequentar os meios vianenses, vinda do Porto, para fazer a investigação para o seu mestrado e, depois, doutoramento, sobre a ourivesaria popular em Viana, na Universidade Católica, com Gonçalo Vasconcelos e Sousa. Destas investigações resultaram dois livros: O uso do Ouro nas Festas de Nossa Senhora d’Agonia e Glossário do uso do ouro popular, ambos de 2011 e edições do CIONP / CITAR.

O ouro popular era um terreno difícil para uma investigadora de fora, uma vez que se pensava que os livros de Manuel Freitas e Amadeu Costa, Ouro Popular Português (1992) e Ourar e Trajar (2011) tinham esgotado o assunto.

Mas se os dois autores vianeses falavam das suas memórias e experiências, um como ourives, o outro como organizador de diversos certames etnográficos, a abordagem proposta por Rosa Maria Mota era outra: estudar a ourivesaria popular pelos métodos de uma investigação académica. Foi assim que leu a bibliografia, estudou pormenorizadamente imagens antigas e outros fundos documentais, participou em cortejos e outras manifestações etnográficas, conversou e entrevistou inúmeras senhoras que usam ou colecionam peças de ouro popular, e tornou-se uma especialista a nível nacional deste tema.

Por isso, em boa hora a Câmara Municipal de Viana decidiu editar o livro A Ourivesaria Popular do Norte de Portugal a Sua Vivência em Viana do Castelo.

O livro apresenta a investigação da autora, suportado por um conjunto de imagens, fotografias e gravuras que recolheu em diversos arquivos e colecções, absolutamente notável.

Genericamente a obra divide-se em três partes: A primeira parte começa com um capítulo mais técnico, onde fala da particularidade do uso do ouro no Norte do país e, muito especialmente, em Viana. Fala também das ligas de ouro e do uso de outros metais, o “ouro dos pobres”, mas também de outras tradições que se foram perdendo, mas as fotografias antigas denunciam: o uso de corais e pedras preciosas, ou o uso de gargantilhas, anéis e pulseiras. O capítulo II fala dos centros de produção de Gondomar e Póvoa de Lanhoso e da venda, desvendando como faziam os vendedores ambulantes que, durante meses, iam de pelas feiras com as valiosas peças. As vivências associadas ao ouro são abordadas no terceiro capítulo, onde refere a apropriação pelas elites urbanas de fora de Viana do uso do ouro que as lavradeiras faziam nas aldeias de Viana e fala também da forma como os grupos folclóricos usaram o outro com os seus trajes. Neste capítulo, para além da qualidade iconográfica, a autora recorre também a fontes literárias, que testemunham o ambiente em que o ouro era usado. Dedica ainda um capítulo às superstições e devoções associadas ao uso do ouro.

Numa segunda parte, o capítulo V é dedicado ao uso do ouro em Viana e nas Festas d’Agonia, onde analisa a evolução no tempo das formas de usar o ouro (sim, não foi sempre igual e os tão polémicos peitilhos fazem parte desta evolução) e da importante relação com o traje, tanto a nível de grupos folclóricos organizados, como de raparigas que, individualmente, continuam a usar o ouro, agora de forma mais cerimonial e simbólica.

O livro termina com um glossário de mais de 300 entradas sobre o ouro, as técnicas, as peças e os usos.

Tudo servido numa edição com a habitual qualidade de design de Rui Carvalho.

É uma obra fundamental na estante de quem gosta de conhecer a etnografia vianense, que deve ser lida com a mesma atenção com que mestres como Cláudio Basto, Abel Viana, Afonso do Paço ou Benjamim Pereira são lidos.

João Alpuim Botelho

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