A ROMARIA DA SENHORA D’AGONIA

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A Romaria nos seus primórdios: 1772. D. José autoriza a realização das Feiras Francas na cidade, enquadradas nas festividades à Senhora d’Agonia, com realização nos dias 18, 19 e 20 de agosto.

As Feiras, confinadas aos espaços do campo da Agonia e Jardim de D. Fernando, são animadas por uma banda de música na área circundante à capela, de fraca ornamentação e modestamente iluminada.

Uma novena, uma procissão e umas dezenas de fogos no ar completam os festejos, que passam, desde logo, a ser considerados como os mais concorridos da província do Minho.

Os fogos do campo: 1852. As festividades são abrilhantadas com os fogos de José de Araújo Soares Viana, pirotécnico contratado para os anos seguintes, dada a reconhecida qualidade do seu trabalho.

Mais tarde, surgem os Silvas e os Castros, que, com os seus fogos de belo efeito, dão um extraordinário contributo na projeção das Festas e, como pirotécnicos, se tornam famosos em Portugal e no estrangeiro.

As praças e as touradas: 1869. É referida a primeira tourada, na praça levantada junto ao Castelo de S. Tiago da Barra. O êxito desta iniciativa leva à realização, dois anos decorridos, de sete “aparatosas” corridas de touros, por uma das melhores companhias de Lisboa.

As touradas afirmam-se e, nos anos seguintes, nos espaços do Campo do Castelo e do Campo d’Agonia, várias praças de touros, sempre melhoradas, são construídas.

A ampliação da capela: 1871. Sob forte contestação, a capela da Senhora d’Agonia é ampliada.

A alteração de um edifício de cariz religioso nunca é pacífica, dada a fé arreigada dos devotos que o frequentam. Porém, a afluência cada vez maior de romeiros de toda a parte do país, no entender de quem decide, impõem a alteração, que acaba mesmo por vingar.

O comboio chega a viana: 1878. O caminho-de-ferro chega a Viana do Castelo. A ponte Eiffel é inaugurada a 30 de junho deste ano. Para o efeito, muito contribuem as primeiras obras públicas do Fontismo e, especialmente, a construção da malha ferroviária portuguesa. As Festas da Senhora d’Agonia, neste ano, segundo o “A Aurora do Lima”, recebem, só no primeiro comboio, mais de 2000 pessoas.

Um embrião de serenata: 1886. É esboçado um embrião de serenata no rio Lima, com barcos iluminados e a queima de muito fogo de bengala. Do outro lado do rio haverá iluminação a barricas, o que deve produzir um belo efeito, diz o jornal “A Aurora do Lima”. Porém, o muito vento não permite que no rio se queime o fogo. Só em terra é que tal é possível, mas com um bom acompanhamento musical.

Serenata a preceito, há três anos depois (1989), para não mais terminar, sempre melhorada com novos números.

No monte de Santa Luzia: 1886. Com as festividades em honra da Senhora d’Abadia, a Romaria alarga-se para o monte de Santa Luzia. No local há arraial e fogo de artifício. Contudo, esta prática vem a ser abandonada decorridos poucos anos. Até à década 1940, de forma irregular, o programa festivo contempla a procissão ao cimo do monte, onde se realiza uma missa campal, acompanhada de sermão.

Esplendorosas iluminações: 1887. O Jornal “A Aurora do Lima” refere o brilhantismo das iluminações do Campo d’Agonia e do Jardim D. Fernando, com milhares de lumes. Decorrida uma década, fala-se já de um novo sistema de iluminação a gás. Com o andar do tempo, as iluminações das festividades tornam-se esplendorosas.

A procissão vai à cidade: 1888. Pela primeira vez, a procissão aventura-se a circular pelas ruas da cidade. Esta sai da capela, passa por S. Domingos e percorre praticamente toda a urbe. Vai ao extremo nascente, à rua Nova de S. Bento, regressa pela rua da Bandeira, atravessa a Praça da Rainha (atual Praça da República), encaminha-se pela rua de S. Sebastião (atual Rua de Manuel Espregueira) e volta de novo à capela. Mas a Festa é bem mais profana do que religiosa e a procissão vem a ter um longo período de interregno, para se impor definitivamente apenas em 1924.

O desporto entra na Romaria: 1888. O Ginásio Clube promove uma regata no rio Lima, abrindo assim uma longa e variada série de competições desportivas, que se prolongam ao longo de boa parte do século XX. Destacam-se nestas, corridas de velocípedes e de motocicletas, concursos hípicos, torneios de futebol, espetáculos de natação, provas automobilísticas e torneios de tiro.

O anunciar da Romaria: 1893. Ruidosamente, é anunciada por gigantones e cabeçudos, acompanhados por gaiteiros e Zés Pereiras, produto importado da vizinha Galiza, mas que o povo saúda e recebe com alegria. E, doravante, jamais deixará de ser apregoada por grupos destes simpáticos figurantes, crescendo em quantidade com o evoluir dos tempos, ao ponto do seu digno enquadramento no programa das Festas, com número próprio e no espaço nobre da cidade.

Alargar espaços: 1895. O Jardim Público acolhe a realização de um grande festival, ao qual acorrem as elites da cidade, dando uma dimensão social superior à Romaria e alargando-a em definitivo a todo o espaço citadino. As bandas de música passam também a ser uma componente de grande importância nos festejos. Se em 1895 estão presentes na cidade quatro bandas, em 1907 contabilizam-se dez, numa demonstração evidente do reforço da componente musical nas festividades.

O cartaz na Romaria: 1907. Edição do primeiro cartaz. O Jornal “A Aurora do Lima” noticia que se trata de um cartaz a cores e de belo efeito. A partir desta data, ao longo de um período de mais de meio século, as Festas são anunciadas mediante cartazes produzidos por artistas de mérito, como, entre outros, Couto Viana (1912, 1914), Luís Filipe (1934, 1943, 1948), Carolino Ramos (1950), Alberto de Sousa (1953), Carlos Carneiro (1955), Joaquim Lopes (1956) e Jaime Isidoro (1957).

A Parada Agrícola: 1908. O envolvimento de intelectuais vianenses nas festividades, conhecidos pelo estudo atento da cultura popular, como Luís Figueiredo da Guerra, Cláudio Basto, Afonso do Paço, Couto Viana, Leandro Quintas Neves e Abel Viana, entre outros, muito deve ter contribuído para a realização, neste ano, da primeira Parada Agrícola. Esta tem reedição em 1926 e 1934/1938. Surge dez anos depois, em 1948, ano do centenário da cidade de Viana, para não mais acabar, sendo hoje um dos mais importantes números do programa da Romaria, com a denominação de Cortejo Etnográfico, designação que lhe foi atribuída em 1964.

Um avião na cidade: 1918. O entusiasmo que por vezes se foi criando à volta deste evento festivo espevitava a imaginação dos organizadores para conseguir números espectaculares. Neste ano de 1918, um aeroplano sobrevoa a cidade e aterra mesmo no Campo do Castelo, despertando uma enorme curiosidade nos vianenses, que, de forma especial, saúdam o acontecimento.

A Festa do Traje: 1927. Do programa dos festejos consta um concurso de trajes regionais, anunciado como “Certame de Costumes”. O resultado é francamente mau, a imprensa não aplaude e a experiência é abandonada. Em 1948, consolida-se com brilhantismo a prática de sortear objetos de ouro pelas lavradeiras vestidas a rigor, iniciada dois anos antes. Daí que, em 1951, o programa das Festas nos apresente, de forma bem explícita, a realização da Festa do Traje no Estádio Dr. José de Matos, para não mais acabar.

O Mestre nas Festas: 1933. O Artista Carolino Ramos é contratado para assumir grandes responsabilidades na decoração da cidade e outros números constantes do programa.  A criatividade e o profissionalismo, como marcas da Romaria, impõem-se. Com Carolino Ramos, a cidade transfigura-se nestes dias festivos. E a Praça da República, em cada ano, com decorações especiais, atinge o brilhantismo. As Festas da Senhora d’Agonia, ao tempo de Carolino Ramos, projetaram-se como nunca, no contexto nacional.

A Santa nas ondas do mar: 1968. Os pescadores e as gentes da ribeira, em manifestação de fé profunda, organizam a procissão ao mar, número que passa a ser enquadrado no programa das festividades e que, na atualidade, mais curiosidade e emoção despertam nos milhares de romeiros que acorrem a Viana.

Das artes e dos ofícios: 1970. Ao longo do século XX, as Festas d’Agonia comportaram regularmente exposições temáticas de grande valor cultural, como é o caso da exposição de louça de Viana, em 1953.

Contudo, é com a exposição de artesanato realizada no recinto do então Límia-Parque, situado na atual rotunda da Ponte Eiffel, comportando os artesãos e as artes, organizada por Amadeu Costa, que as Festas são marcadas por uma nova era neste domínio.

Gente notável na Romaria: 1978. A Romaria da Senhora d’Agonia é uma festa cosmopolita e de agrado geral. A Viana, para a viver com intensidade, acorre gente de todo o mundo. Políticos e personalidades de diversos ambientes culturais, fruindo-a, procuram também compreendê-la em toda a sua dimensão social.

Em 1978, Jorge Amado e a esposa, Zélia Gattai, vêm propositadamente do Brasil para saborear as Festas que o mundo inteiro gaba. Encantados com Viana, enquanto vivos, vêm cá muitas outras vezes, deixando-nos, para sempre, gratas recordações. Beatriz Costa, sempre que pôde, também aqui foi presença regular. Outra personalidade que os vianenses jamais esquecerão, Presidente da Comissão de Honra das Festas em 1998, foi a Artista Amália Rodrigues, que, ao longo dos tempos, cantou sentidamente Viana.

Obreiros das Festas: 1994. É instituída a figura de Presidente da Comissão de Honra das Festas da Senhora d’Agonia. E a honra, pela primeira vez, é dada a Amadeu Costa, como figura cimeira da Comissão. Amadeu Costa, ao longo dos tempos, tinha sido um dos grandes obreiros da Romaria. Viana, neste e noutros domínios muito lhe devia, e devem. Daí esta distinção. Posteriormente, outras figuras nobres vêm a ser nomeadas para presidir a esta honrosa Comissão, entre elas, Olga Roriz em 2001.

Dar dimensão à Romaria: 2002. As Festas de Nossa Senhora d’Agonia desde há muito tempo que se afirmaram como as maiores de Portugal. Daí a afluência de centenas de milhares de forasteiros a Viana do Castelo nestes dias festivos. Por esta razão, a sua organização não se compadece com voluntarismos. Daí a criação da entidade VianaFestas, para tratar de forma profissional da realização deste grande evento.

 

 

 

 

 

 

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