A sociedade agita-se e move-se

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Gonçalo Fagundes Meira

A dívida pública é um dos mais delicados problemas dos países. Ter uma elevada dívida pública em % do PIB (Produto Interno Bruto – a riqueza que um país consegue criar), torna as nações prisioneiras dos credores. Pior, quando a dívida se torna incontrolada. Nessas condições, perde-se a capacidade de governar autonomamente, obrigando ao recurso de entidades externas, a par de juros insuportáveis. Trata-se de uma situação que não desconhecemos. Já a vivemos três vezes (1977, 1983 e 2011); e sempre em situações críticas e pouco abonatórias para o prestígio do país.

Infelizmente, somos um dos mais endividados países europeus, e até do mundo. Ainda recentemente tínhamos a terceira maior dívida da União Europeia e a décima maior do planeta, mercê de um endividamento de 123,0% do PIB. É bom referir, para que boa reflexão se faça, que a dívida de Portugal, no ano 2000, era de 52% do PIB (dados Pordata). No entanto, ainda segundo a mesma Pordata, a nossa dívida recuou agora para 118,9% do PIB, resultante, fundamentalmente, do nosso crescimento económico. Melhor ainda, são os resultados mais recentes, a demonstrar um crescimento da economia em 2022 de 6,7% e o Banco de Portugal a informar que a nossa dívida pública se situa agora nos 114,7% do PIB. Ora, perante este valor, estima-se que a vizinha Espanha, e até a rica França, poderão passar a ser países mais endividados que Portugal, não esquecendo a Itália que já o era.

Ninguém pode ter dúvidas de que ter contas em dia nos dá solidez e credibilidade, permitindo empréstimos a juro suportável e mais desafogo financeiro. Contudo, excelente, seria se o país tivesse muitos dos seus problemas crónicos resolvidos, o que não é o caso. Continuamos a não superar baixos níveis de produtividade, nem a resolver questões sociais delicadas, mercê de salários escassos, que nem sequer acompanham a inflação (boa parte de carácter especulativa) com que nos debatemos. 

Não admira, por isso, que a sociedade esteja agitada, com as greves a sucederem-se e as várias classes laborais a protestarem na rua, caminhando para extremos. E tudo indica que este quadro não vai facilmente ser ultrapassado. Deixaram-se arrastar insuficiências que há muito deveriam ter sido superadas. Perante uma economia que, apesar de ter crescido, não responde de todo a necessidades básicas, e com tanta gente desagradada, particularmente as novas gerações, e até boa parte da classe média, o futuro não prevê uma sociedade pacificada. Aguardemos, expectantes e, é sempre bom lembrar, suficientemente participativos.

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