Afetos e desafetos

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Em trabalho publicado recentemente no jornal “Expresso”, diz-se que Portugal tem 5,8 milhões de animais domésticos, distribuídos por 54% dos lares do país, com um custo de tratamento que pesa 15% no orçamento familiar. Nesta abordagem também se dá a conhecer que boa parte daqueles que os adotaram como companhia os consideram membros integrantes da família, recaindo a predileção nos cães (36%), a que se seguem os pássaros (25%) e logo de seguida os gatos (21%).

Contudo, ainda nos situamos um pouco abaixo da média de um conjunto de 23 países do mundo, onde a Argentina surge na dianteira, quase a duplicar a nossa percentagem. Caso curioso, os três primeiros países nesta enumeração situam-se no continente americano, com o México em 2º e o Brasil em 3º lugar. Bem enganados estavam os que presumiam que era na Europa que mais se manifestava a vontade de ter bichos de estimação. O melhor que temos no nosso continente é o enquadramento da Itália em 7.º lugar.

Gostar de animais, se estimados, no mínimo não os tratando mal, é salutar e demonstra riqueza de afetos da parte de quem os tem. Cá em casa não os há, não por razões de desafeto, mas antes por falta de tempo para lhes dar o tratamento que merecem. Por outro lado, tive o grato prazer de ter gato durante bastante tempo, mas também tive a ingrata experiência de o perder e sentir vincada tristeza quando tal aconteceu.

Ver gente a passear com um cão bem tratado, escovado, luzidio e devidamente atrelado para não incomodar terceiros, é um regalo. Melhor ainda se quem os passeia evita que estes façam sujidade nos passeios ou, se tal acontecer, procede à conveniente limpeza, evitando que alguém, especialmente idosos, se estatele no chão, como tantas vezes acontece. Ainda há pouco tempo tive que socorrer uma anciã que, caminhando com dificuldade, caiu depois de escorregar em dejetos, não conseguindo levantar-se.

Naturalmente, as pragas caíram nos pobres dos bichos, mas estes não são culpados, porque também eles têm necessidades fisiológicas, necessitando apenas que alguém lhes facilite a vida.

Estimar os animais, está provado, é cada vez mais uma evidência dos povos. Mas este enraizamento de afeto por cães e gatos não pode funcionar em prejuízo de familiares próximos. São cada vez mais os idosos a ser colocados nos lares de terceira idade e, tantas vezes, aí esquecidos.

Consagrar toda a afeição a seres adotados e ficar em débito para com os familiares diretos, especialmente os progenitores, é algo pouco salutar. Se fossem seres pensantes, até os animais nos condenariam por tal.
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