“Ai valha-me a Senhora d´Agrela…”

Aníbal Alcino
Aníbal Alcino

Quando vou cortar o cabelo, na Praça da República, enquanto estou sentado à espera de vez, de quando em quando o amigo sr. Mateus, sempre a sorrir, vai largando, em voz alta, a seguinte “oração”: “Ai valha-me a Senhora d´Agrela que não há outra como ela”, e acrescenta: “Podíamos darmo-nos todos como irmãos e somos tão ingratos e maus!”

O sr. Mateus, além de fervoroso portista (F.C.P.), ele pronuncia-se, verbalmente, como se fosse um padre a dizer missa. Toda a gente sorri, mas a verdade é que, por vezes, me vem à mente a imagem daquela criança, na praia, semi-nua, semi-vestida, que morreu, inocentemente, nas ondas do mar, vítima do “terrorismo” existente em parte do nosso mundo.

A indiferença pelo sofrimento humano é terrível, sobretudo quando provindo da Síria e de outros países árabes e africanos, como, agora, do México, da Venezuela e, até, do “nosso Brasil”… dói muito!

E foi que então, esta semana, vi surgir nas mais diversas revistas, na rádio, na televisão, durante dias e noites, a notícia do falecimento do meu colega e pintor Júlio Pomar. Fiquei triste porque foi o meu companheiro, durante anos, na Escola S. de Belas Artes do Porto. Mas, comparando a valência para o país, com aquela que foi a do Dr. António Arnaut (falecido na mesma altura), e que “criou” o ainda actual Ministério da Saúde; comparando o muito que se falou do artista-pintor, durante dias seguidos, dos benefícios que Arnaut trouxe para a maioria dos portugueses – e o quase “injusto” e relativo pouco espaço que lhe proporcionou a imprensa portuguesa, fiquei decepcionado. É a vida!?

Já tive de recorrer, várias vezes, a hospitais públicos, para diferentes e diversas operações cirúrgicas e, praticamente, não paguei um tostão. O mesmo digo quando tive de recorrer às Delegações de Saúde.

Recordo que, numa das vezes, internado no Hospital de Viana, a meu lado, numa cama, estava um pobre trabalhador do campo, velhinho, a ser tratado por um jovem enfermeiro, que lhe ia cortando as unhas dos pés e lavando-o, por inteiro, em todo o corpo, com um carinho indiscutível.

Não haja dúvida que o Pomar foi um grande artista-pintor, mas o Dr. Arnaut foi muito mais útil para a maioria do povo português e merecia outra atenção…

Para acabar, digo que já me vai ando nojo os diálogos, os negócios, a corrupção que vai havendo entre “dirigentes”, jogadores e “críticos de futebol. Deve-se terminar, já, com esta “podridão”… Milhões de euros para dar um pontapé numa bola? Por amor de Deus!

Parabéns a quem teve a coragem de acabar com a escultura do José Rodrigues, muito mal colocada na mais linda Praça da Cidade de Viana do Castelo.

Nem tudo é mau neste mundo para termos de recorrer à “Senhora d´Agrela” onde não há outra como ela!

 

Aníbal Alcino

(Foto: Me Explica?)

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