Amados Quadros

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Américo Carneiro

Antes de mais, deve dizer-se que Diego Rivera, que, desde pequeno sempre quisera ser pintor, depois de estudar Artes na Cidade do México durante a adolescência e tendo ganho uma bolsa de estudo, partiu para a Europa, onde permaneceu entre os anos de 1907 e 1921.

   Que em Madrid estudou na prestigiada Academia de San Fernando e teve a oportunidade de privar com os Pintores Juan Miró, Pablo Picasso e Salvador Dalí e com o Arquitecto Antonio Gaudí, influências marcantes no carácter sensível do jovem pintor mexicano.

   E que, de igual modo e durante alguns destes anos, viveu em Paris, onde conheceu as obras de Cézanne, Renoir, Seurat, Matisse, Gauguin e Dufy. Praticou com entusiasmo o Cubismo, sobretudo entre 1913 e 1917. E, em 1921, sentindo-se amadurecido, senhor de si e do seu destino, regressou ao México natal.

   Encontrou tudo em estado de sítio: entre 1910 e 1920, as sublevações populares lideradas por Emiliano Zapata e Pancho Villa haviam arrastado o país para uma cruel guerra civil e para o caos económico e social. A maioria da população mexicana era constituída por camponeses sem-terra e as poucas conquistas que haviam alcançado seguindo com grande ímpeto e espírito de sacrifício aqueles líderes revolucionários, foram todas deitadas por terra sem apelo nem agravo, ficando o povo condenado à fome e à miséria.

   Inspirado nestes dramas pungentes, como aliás sucedeu com os seus concidadãos e companheiros, David Alfaro Siqueiros e José Clemente Orozco, também eles artistas saídos do movimento do Realismo Social, Diego Rivera inicia o grande projecto artístico que viria a ser conhecido como Muralismo e no seio do qual viria a ser considerado o máximo expoente.

   Antes de mais, o Mural supõe a realização artística em espaços públicos (“ao povo o que é do povo”), trazendo a Arte para a Rua e para a fruição popular, uma Arte exposta em grandes superfícies onde possam espraiar-se vistas extensas (reais e fictícias, estas do reino dos anseios), espraiando-se nelas o imaginário político-social da História do Povo Mexicano.

   O Mural torna-se assim no contraponto à pintura burguesa, designada como “pintura de cavalete” já que predestinada à aquisição por colecionadores privados e à fruição de uma minoria parasitária e colonialista.

   Por outro lado, o Mural é pedagógico e revolucionário pois que os elementos das composições têm grande valor figurativo, bem delineados e cromaticamente bem contrastados; e os seus temas, apesar de familiares ao povo, recaem sobre a grandeza heroica das Civilizações Pré-Colombianas, logo pré-coloniais, espelham os ideais populares, libertários, antagónicos aos mesquinhos interesses das classes dominantes. Para além de tudo isto, através do Mural, a Arte Popular é recuperada, usada com grande generosidade, ascendendo a um nível de grandeza e de dignidade invejáveis.

   Neste Mural em particular, “Distribuição das Armas”, a mensagem é patente, funciona como um “ultimato”, chega a ser “íntimo” na sua realização material: muitos dos seus personagens são pessoas reais e admiradas pelo povo e, ao centro, é retratada a própria mulher do autor, a Pintora Frida Kahlo, que se afadiga na distribuição das armas à população…

   

   N.R. – O Autor não segue os preceitos do novo Acordo Ortográfico.

     

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