Longe estaria Claude Monet (França, 1840-1926) de imaginar que, quando comprou uma propriedade em Givenchy, em 1890, se encontrava prestes a iniciar uma segunda revolução na sua vida e no Mundo das Artes. Sim, a segunda, pois a primeira lhe tinha chegado com a aventura impressionista da década de sessenta e a categorização pretensamente pejorativa da sua obra “Impressão-Nascer do Sol” por parte de um antagónico crítico de arte, mais avesso a novidades e amigo dos chistes, como sendo a primeira obra do “impressionismo”…
Pois, em Givenchy foi Claude Monet construindo o seu idílico jardim aquático desde há muito sonhado. Nele instalou um grande lago coberto de nenúfares e cercado de exuberante vegetação que ao longo dos seus últimos trinta anos de vida lhe serviriam de tema, captando o pintor neles e nas águas, que tudo devolviam em forma de reverberações encantatórias, todas as cores e reflexos possíveis, debaixo de todas as condições de luz e meteorológicas em todas as estações do ano. Monet produziu todas estas “impressões/expressões” em grandes dimensões sobre as quais as formas intensamente coloridas, se analisadas mais de perto, se tornavam abstractas e, portanto, autónomas nas composições. Além disso, demonstrou grande desinteresse pelas chamadas composições formais, focando-se na cor, na luz e nos processos, aplicando com grande energia e expressão as tintas sobre os suportes, deixando neles as suas marcas de subida emoção.
No outro lado do oceano, nos E.U.A. e durante os anos 30, Georgia O´Keefe, utilizando processos fotográficos como o do “zoom” (ampliação), isolava fragmentos dos seus contextos, como o interior de pequenas flores, fragmentos que usava como temas para as suas pinturas em telas de grande dimensão. Assim, modificando as suas escalas, proporcionando novas proporções relativas entre as abstracções daqui resultantes, autonomizando formas e cor, criava novas realidades com uma nova expressão… (V., p.f., o artigo “XVIII. O`Keefe”, na rúbrica “Amados Quadros” d`”A Aurora do Lima” N.º 26, Ano 167, de 14.07.2022).
Durante os anos 40 e 50, os pintores americanos (sobretudo de Nova Iorque), integrantes do movimento do Expressionismo Abstracto, dando vazão à sua espontaneidade e à livre projecção dos seus subconscientes, adoptaram condutas inéditas na execução das obras: – Projectavam entusiasticamente tintas sintéticas (acrílicas) sobre grandes telas – muitas vezes colocadas no chão – e, depois, misturavam-nas com as mãos e com o próprio corpo de modo que o resultado fosse estritamente gestual e dele emanasse com primazia a emoção do artista.
Entre 1958-59, Morris Louis realizava uma série de pinturas que ele designava por “Veils”, ou seja, “Véus”, onde este fabuloso “Saf Gimmel” se integra. Sobre grandes telas “cruas” (não-tratadas), Morris Louis derramava grandes quantidades de cores acrílicas muito diluídas em aguarrás, em várias camadas sucessivas ou corrimentos, melhor dizendo, de forma que as telas funcionassem como mata-borrões, absorvendo as tintas. Desta maneira, as cores passavam a ser como véus coloridos e toda a transparência e vivacidade que o artista lhes impunha na manipulação, com os movimentos – geralmente de cima para baixo até ao centro e vice-versa – e os jactos de tinta, encontrariam os seus próprios meios de se organizar de forma a que a luz e a cor sempre triunfassem. E sem pincéis.