Ano Novo 2024

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Nunca fui pessoa de embarcar em fantasias, embora reconheça que, por vezes, pode ser útil para o corpo e o espírito. Razão pela qual não dedico especial interesse à passagem de ano, já que é uma noite como outra qualquer, mas a que a tradição em todo o mundo atribui grande significado, com reflexos especiais para toda uma actividade económica que, por causa dessa noite, faz aumentar substancialmente os lucros dos comerciantes. No fundo, bem vistas as coisas, quem lucra é um comércio diversificado, a hotelaria e as agências de viagens. É o consumismo no seu auge, assessorado por uma gigantesca máquina de marketing, e nada a opor porque é assim que as sociedades funcionam. A fantasia, porém, é passageira e não se sobrepõe à realidade, podendo vir a ser muito amarga se as pessoas não estiverem com a mente desobstruída para fazerem escolhas racionais.

O nosso país não foge à regra e foram muitos os festejos, com os hotéis esgotados, não faltando fogo de artifício e diversões para todos os gostos. Para um país que, normalmente, vive triste e desiludido com os políticos e governantes, não há dúvida que estas dinâmicas de carácter festivaleiro ajudam, por algumas horas, a não pensar tanto nas dificuldades de cada dia. O pior é o dia seguinte!

Vamos ter, neste novo ano, duas eleições a nível nacional e uma a nível regional, em que vão estar em jogo importantes estratégias para a gestão política do país. As eleições legislativas surgem como as mais importantes, pois delas sairá um novo Parlamento e um novo governo, que conduzirão os nossos destinos nos próximos anos. Segue-se o acto eleitoral dos Açores e o do Parlamento Europeu, que definirá as políticas europeias para cinco anos. Deste último só desejo que emanem órgãos refrescados por personalidades de excelência, já que muitas das que lá se encontram, a começar pela presidente da Comissão e pelo comissário espanhol, Borrell, devem ir fazer ski nas planícies geladas da Ucrânia, levando pela mão o seu presidente numa inefável prova de amor. Ah!… E também podem levar o MNE de Portugal, que é outro apaixonado por aquelas paragens.

Tudo indica que as eleições legislativas no nosso país serão muito disputadas, quer pelos objectivos políticos em jogo, quer pelo que será a preferência dos eleitores, quer ainda pela afirmação dos líderes partidários, dos quais destaco Luís Montenegro, por ser o presidente do segundo grande partido da democracia portuguesa, e Pedro Nuno Santos, o novo líder do PS. Um destes líderes irá ser o próximo Primeiro-Ministro de Portugal, e todos os olhos se focarão nas suas pessoas e nas suas movimentações, com um escrutínio permanente da comunicação social, que agora se pode entreter na procura de eventuais telhados de vidro para os destruir politicamente, pois é disso que se alimenta. Aliás, Luís Montenegro parece ter sido, já, um alvo a abater, a julgar como alguns canais televisivos, cinicamente, lhe começaram a morder.

Quanto aos outros pequenos partidos, todos farão pela vida, tentando o melhor resultado possível, e pode até acontecer que sejam estes, no final, a decidirem para que lado se inclina o fiel da balança. Já assim foi no passado com a geringonça, como nos lembramos. Destacaria, neste particular, o Partido Chega, por um lado, e o Bloco, por outro. Quanto aos restantes, deles não emana, no meu ponto de vista, uma forte atracção nem sensação de confiança no futuro, como também não apresentam políticas que se considerem geniais, limitando-se a lugares-comuns. Mas como todos têm o direito à vida, veremos os resultados no final.

Neste novo ano de 2024, desejaria que se conseguissem acordos de paz estáveis nas guerras do Médio-Oriente e na Europa do Leste, por muitas e variadas razões, mas especialmente pela brutal perda de vidas humanas. Não dá para entender como a União Europeia, que se formou para manter a paz neste continente, continua obcecada no fornecimento, à Ucrânia, de sofisticado material de guerra e outros recursos financeiros no valor de muitos biliões de euros, alimentando assim uma guerra e, pior ainda, atraiçoando a génese da sua criação. Os governantes europeus que roubam esses meios financeiros aos seus povos, canalizando-os para matar russos, deveriam ser julgados e responsabilizados pelos seus povos. Alegam que se a Ucrânia perde a guerra, os russos invadirão a Europa. Esquecem-se que nunca a Rússia Soviética ou a actual Federação tomaram qualquer atitude hostil contra a países da OTAN. Porquê, então, tanto medo instalado? 

O Médio-Oriente está a ferro e fogo desde há cerca de três meses, com todas as consequências que chegam até nós através da comunicação social. Curiosamente, o país agredido está a ser fortemente criticado pela reacção ao ataque terrorista de que as suas populações foram alvo. Não vejo as coisas assim e penso que o governo de Israel deve aplicar todos os meios ao seu dispor para eliminar e neutralizar todos os terroristas e quem lhes dá santuário, porque é sua função primária defender os seus cidadãos. E quando este desígnio é desafiado, como foi o caso, não resta ao Estado agredido senão utilizar todos os meios ao seu alcance e queimar estes criminosos nas chamas do fogo do inferno. Esta é a obrigação dos governantes e para isso foram eleitos. Há danos colaterais? Claro que há e sempre existirão em todas as guerras, porque nunca se podem evitar.

Em termos de conclusão, depara-se-nos um ano complicado, tanto no nosso país como em algumas regiões do mundo. No nosso país, porque as legislativas poderão não proporcionar a estabilidade social e política que todos desejamos. No mundo, porque os conflitos armados em curso não apresentam um limite temporal e têm implicações na nossa vida diária. Para isso devemos estar preparados e é bom que quem venha a governar o país não desbarate mais dinheiro dos nossos impostos para alimentar uma guerra que não é nossa, mas antes o aplique na resolução dos graves problemas sociais existentes e que são tantos! O mesmo se diga para os restantes países da União Europeia, cujos governantes vivem alucinados e a tremer de medo

A todos os leitores do nosso Aurora, sem excepções, expresso votos sinceros de um Ano de 2024 repleto de saúde e sucessos pessoais e profissionais.

A. Lobo de Carvalho

Nota: O autor não acompanha o novo acordo ortográfico

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