Antonieta

Aníbal Alcino
Aníbal Alcino

Há uns anos atrás, já eu estava reformado como Diretor da Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo, ao subir a ladeira curva da Rua de S. José, não sei como, caí, com todo o peso do corpo no passeio de pedra, no chão, sem dizer ai. Algumas pessoas socorreram, levantaram-me, perguntando-me se estava bem. Disse que sim, para não incomodar ninguém mas, ao chegar na subida, junto à antiga casa do Dr. Freitas Rosa, voltei a cair, e foi uma vizinha minha, do mesmo prédio que eu habitava (que negoceia em peixe, por atacado, conduzindo uma potente camioneta de trabalho) que me levantou, meteu-me no banco da frente, levando-me a casa, ali perto, na Rua Pintor Alberto de Sousa — coisa curiosa, o nome de um “afamado” pintor-aguarelista, a um outro, que sou eu, não tão divulgado no País e em Viana. Do valor artístico de um e outro, isto é, do meu e do dele — são outras questões…

Chegado a casa aparece logo a minha nora, a Antonieta, que mora por cima, olhando para mim, indo buscar o termómetro para me medir a febre, dizendo de imediato: “O pai tem que ir já para o hospital. Não está bem. O seu rosto revela tudo. Está branco.” Verificou as pernas para ver se estavam esfoladas e disse ao marido, o Alcino, o meu filho mais velho, e ainda à mãe:

  • Vou com o pai e o Alcino já para o Hospital de Santa Luzia!
  • Eu estou bem, Antonieta. Isto passa!
  • Passa nada! Tem de ser observado por um médico.

Fomos de automóvel. A Antonieta entrou pela porta larga e principal das urgências, agarrando-me por um braço, dizendo: “Sente-se aqui que temos de ir primeiro à triagem”.

  • O que é isso?
  • É onde vai explicar o que lhe aconteceu, o que sente, para aguardar que seja visto por um médico.

Já era noite.

  • Tenha calma. Deixe sair primeiro os que já lá estão e depois vamos nós… Olhe, pai, é agora!
  • Senhor enfermeiro — disse a Antonieta — o meu sogro já tem mais de noventa anos! Ouve mal. Faça as perguntas a mim que eu transmito-lhas e ele responde.
  • De que se queixa? – disse o funcionário da triagem — Que lhe aconteceu? Já esteve doente? De quê?
  • Sim! – disse-lhe a Antonieta – já teve um enfarte do miocárdio. Sofre do coração. Caiu na rua.
  • Aguarde lá fora para ser chamado.

Sentamo-nos. — Tenha calma. Isto não vai ser nada.

  • Senhor Aníbal Alcino! – grita o altifalante.
  • Vamos, vamos! — e entrou comigo, arrastando-me para outra sala de espera mais interior e, novamente sentados, aguardamos o médico. Estavam lá mais pessoas… O médico, uma pessoa alta, disse-nos que era francês. Pegou num aparelho com rodinhas e um “ecran” para ver não sei o quê. Esse aparelho avariou. Irritado mandou vir mais outro. Apenas disse: “O senhor devia ir a um médico especializado em cardiologia…

Entretanto, olhando para o seu relógio de pulso, rematou: “Chegou a minha hora. Vou-me embora e será visto, daqui a pouco, por outro colega”…

Tive sorte (depois digo porquê). Fomo-nos sentar e levei uma injeção no braço e tomei um comprimido. Fui novamente chamado, e agora apareceu-nos uma médica pequenina, espanhola, que me pediu para tirar o casaco e a camisa. A Antonieta sempre a ajudar e atenta. A médica tirou-me a tensão, a febra e, surpreendentemente, pediu-me para abraçar, com força, todo o seu corpo vestido com a bata branca. Por fim, rematou: — C´arai, que ela pegou-te bem. Tem falta de oxigénio. Está com uma pneumonia. Mora cá em Viana?

  • Sim, mora! – respondeu a Antonieta por mim.
  • Olhe, eu não o interno no hospital porque, dado o estado em que está, pode apanhar algum “vírus” que o leva desta para melhor! Mande comprar estes remédios que lhe receito, alguns são antibióticos, e alugue já uma máquina de oxigénio para colocar imediatamente na sua casa. Tem uns longos tubos de borracha que devem estar sempre metidos nos buracos do nariz, quer esteja na cama ou em pé.

A Antonieta perguntou-lhe se queria ver o cartão de cidadão ou o da ADSE.

  • Não! Tenho todos os elementos no computador. Deve é continuar a medicação que tem há anos para o coração e para a diabetes 2. Leve-o já para casa e estimo passe bem!

Quando cheguei a casa já tinha a “maquineta” do oxigénio no corredor e os remédios que ela receitou, porque o meu filho rapidamente os foi comprar à farmácia que estava aberta àquela hora da noite. Os remédios que ela agora receitou vinham acompanhados com a indicação de tomar aqueles outros que eu já usava para o coração e a diabetes 2 – Indur, Cartia, Diamicrou/LM. A minha mulher assentou, num papel quadriculado, as horas e os remédios que havia de tomar.

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.