Apostar na excelência

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A. Lobo de Carvalho

Hoje, mais do que nunca, e por virtude da evolução imparável das novas tecnologias, as empresas mais bem colocadas no mercado procuram recrutar os melhores quadros e alunos das universidades, visando uma aposta na inovação e na renovação dos seus quadros para atingirem ou manterem os níveis de excelência.

Mas, se isto acontece na esfera privada, deveria ser também, e por razões óbvias, preocupação da Administração Pública, visto que gere a vida dos cidadãos em todos os sectores, realidade que deveria merecer uma atenção muito especial do Estado, particularmente dos governos, enquanto poder executivo, porque são eles que criam as regras pelas quais se deve pautar a acção e as dinâmicas dos Organismos Públicos no recrutamento dos recursos humanos.

Pese embora o facto de os processos parecerem mais transparentes, a verdade é que subsistem opacidades que nos levam a duvidar das boas intenções e isso explica, de algum modo, os empregos de familiares de responsáveis nos diversos Serviços da Administração Pública, com relevo para muitas autarquias transformadas em verdadeiras empresas familiares, onde aquilo que se observa nada tem a ver com a excelência para servir os cidadãos, mas sim com interesses meramente pessoais. Como diria Eça de Queiroz, os nossos destinos são regidos pela política do compadrio.

E quando assim é, deparamo-nos com responsáveis assumidamente donos da quinta, do quero, posso e mando, quais ditadores enchouriçados sem ética, sem instinto político e sem a experiência que faz o estadista. Com efeito, o nosso país continua a sofrer de um oportunismo político que se cruza diariamente nas nossas vidas, que nada oferece de positivo e que visa essencialmente manter as clientelas.

Assusta-me olhar para o panorama administrativo do nosso país e pensar que as nossas vidas podem estar dependentes de decisões de alguns juízes corruptos ou com atitudes graves de violência doméstica ou manipuláveis, assim como de grupos profissionais esotéricos onde se movimenta todo o tipo de influências que podem conduzir a decisões corporativas profundamente injustas para os visados. Parafraseando, de novo, Eça de Queiroz, falta a aptidão, o engenho, o bom-senso e a moralidade para ser-se autoridade no sentido exacto do termo.

No xadrez dos Partidos, as guerras internas sucedem-se, especialmente quando se avizinham eleições, sejam elas quais forem, porque através de um lugar de representação partidária que se conquiste fica garantida uma retribuição mensal, e isto por um período de quatro anos, que pode voltar a repetir-se. Para além do mais, é a importância do poder que se detém e a influência que se pode exercer, tendo sempre em vista o maldito do dinheiro. Não se valoriza a excelência nem as qualidade e capacidades dos candidatos, mas sim os interesses pessoais, pura e simplesmente. E isto é profundamente negativo, porque descredibiliza os Partidos e afasta os eleitores. Mais grave ainda é o facto de existirem pessoas que se dispõem, conscientemente, a dar apoio a esta corja de incompetentes, muitas vezes a troco de uma côdea de pão. E depois vem-se publicamente lamentar a alta abstenção nos actos eleitorais?

Temos agora um novo governo indigitado, cujos membros, na opinião de diversos comentadores mais afectos às esquerdas, desfrutam de uma opinião positiva, e ainda bem, não obstante a maioria dos ministros e secretários de Estado ter transitado do anterior governo e nem sempre um ou outro ter deixado uma imagem de operacionalidade e de serenidade política. É uma boa ocasião para verificarmos se o Primeiro-Ministro fez boas apostas e isso rapidamente irá ocorrer, de forma visível, na gestão da Saúde pública e de toda a problemática que lhe está associada, assim como na Educação, na Administração Interna e Justiça, em que os problemas existentes são tantos que exigem que venha ao de cima a competência, a excelência dos decisores e a alma de estadistas. Com um elenco de setenta governantes tão bem escolhidos e a gozarem da confiança dos opinion makers, para um país tão pequeno, só podemos esperar uma governação excelente! Só que… a diferença entre as expectativas e a realidade pode tornar-se num buraco negro, pairando já no firmamento algumas nuvens que podem indiciar tempestade!… E resta, ainda, seguir com renovado interesse quais são os apoiantes no parlamento.

Foto: “Sol”

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