Se numa primeira fase desta reflexão procurei explicar como as diferenças histórico-culturais poderão ser um fator benéfico para a evolução da nossa sociedade, desta feita procurarei discorrer sobre de que modo esta não aceitação e compreensão das diferenças poderá ser um impulsionador para um estado permanente de infelicidade partilhada.
Não é por acaso que nas minhas reflexões anteriores venho enfatizar a importância do amor.
O ser humano só conhece dois sentimentos primários: o medo e o amor e, por norma, nós só receamos aquilo que desconhecemos. E não há nada tão grave do que não conhecermos a nossa própria pessoa.
Nesta tentativa dominada pelos meios de comunicação de criar uma cultura homogénea e um tanto ou quanto melodramática, não é de admirar esta necessidade cega de imporem o desejo por uma “igualdade” totalitária, esquecendo a ideia associada à diferença e à individualidade. Por outras palavras, isto é o mesmo que dizer que deveríamos abdicar do nosso poder pessoal e passarmos a partilhar, exatamente, os mesmos gostos, crenças e valores. Desculpem-me o “opinismo”, mas isto não passa de uma ideia absurda e utópica. O conceito de poder pessoal incorpora, em si, a pessoalidade. Seria por ventura, injusto, querer que seguíssemos todos os mesmos padrões, o que acabaria por desrespeitar a unicidade de cada um. Ainda que todos iguais, cada um, à sua maneira, contribui para a grande diversidade que é a própria vida.
E todo o problema começa quando deixamos de respeitar quem somos. Todo o problema se agrava quando queremos agradar às multidões e nos tornamos uma espécie de soldados de uma realidade distorcida. Tudo começa e acaba quando fechamos a porta da casa da felicidade e caímos nas armadilhas da infelicidade. É uma linha muito ténue, e por vezes muito difícil de discernir. Sermos nós próprios requer espírito de sacrifício, de resiliência, de coragem, características que se vão desvanecendo pelo domínio auto-imposto de uma sociedade imediatista, crítica e normativa que condena os diferentes.
É preciso ter muito cuidado e ser-se muito forte para embarcar nesta luta diária. Optar pelo ódio é muito fácil, mas seguir pelo caminho do amor requer trabalho e consciência.
Para uma sociedade onde prevalecem atitudes como o consumismo, o vitimismo, o merecimento, a necessidade de resgate, e a culpabilidade, o único antídoto recomendado é o apreço. Aprendermos a ser gratos pelo que temos, a perdoar os nossos erros e os dos outros, a aceitar as diferenças e adotar uma postura de pró-atividade é o único caminho da salvação. Num mundo onde esperamos pacientemente por um super-herói que nos venha salvar, antes optássemos por uma atitude altruísta e salvássemos a própria pele!
Pode até não acreditar, mas o altruísmo é para muitos uma forma superior de amor, e que a meu ver deveria ser sugerida como a próxima forma de vacinação. Tamanha preocupação pela saúde física e pouquíssimo enfoque na saúde mental não tem dado resultados muito positivos, ora não?
Ainda assim, sou daquelas que crê num futuro colorido, e por muito que o leitor desconfie, entre nós ainda caminham pessoas muito boas, ainda há magia no ar e ainda existem inúmeras possibilidades para começarmos de novo.
Mas com isto lhe pergunto, será capaz de fechar a porta à sua própria infelicidade?
Espero humildemente que considere a ideia que a força está dentro de cada um de nós, e que a menor ou a maior custo, sendo europeu ou asiático, todos somos capazes de criar a nossa própria saga de felicidade.