As relações familiares do poeta Guerra Junqueiro (cujo centenário da morte passou em 7 de Julho) com Barcelos e com a família Roças, proprietária de um estabelecimento hoteleiro com o mesmo nome, na referida cidade, sito junto à ponte do rio Cávado, na rua do Terreiro (actual rua Duques de Bragança), estabelecem-se através da sua mulher, Filomena Augusta, com que se manteve casado durante 43 anos, e manteve uma paixão eterna, “um terno e carinhoso companheiro da minha vida”.
Filomena Augusta teria sido apresentada a Guerra Junqueiro, na Praça da Rainha, em Viana do Castelo, pelo comum amigo Visconde da Torre. Da conversa sobre poesia e da sua admiração pelos seus livros, aquele pediu a Manuel da Graça Pereira Roças, também poeta, e tio da Filomena, que lhe entregasse o livro de versos “Musa em Férias” com a última estrofe do poema “O Amor” sublinhado, tendo-lhe ainda dedicado a poesia “Adoração”. Foi uma primeira abordagem amorosa, que resultaria, pouco depois, em casamento.
Estudou, com a sua irmã mais nova, Maria das Dores, num dos melhores colégios de Lisboa e vestiram nas melhores modistas da capital, sendo das meninas mais ricas de Viana do Castelo. Eram filhas da barcelense Isabel Cândida Pereira, da família Roças, proprietários do hotel com o mesmo nome, e do vianense Sebastião das Neves, proprietário e benemérito.
Com o curso de Direito da Universidade de Coimbra, em 1873, Guerra Junqueiro passou a residir em Viana do Castelo, desde que fora nomeado para secretário-geral do Governador Civil daquele distrito, Rocha Páris, a partir de 22 de Setembro de 1879. Mas, exerceu o cargo por pouco tempo, pois em 19 de Outubro de 1879, foi eleito deputado pelo círculo eleitoral de Macedo de Cavaleiros pelo Partido Progressista, e rejeitou-o por possível incompatibilidade de ocupar outro cargo no estado.
Filomena Augusta da Silva Neves, nasceu em Barcelinhos, em 7 de Março de 1859 e faleceu, em 1959, na freguesia da Sé, no Porto, na Casa-Museu Guerra Junqueiro (Casa do Cónego Magistral da Sé, D. Domingos Barbosa – Séc. XVIII). Era filha natural de Isabel Cândida Pereira Roças, solteira, natural da vila de Barcelos e moradora na rua do Terreiro e que faleceu, em Viana do Castelo, na sua residência, na rua São Sebastião, em 6 de Maio de 1865, com 63 anos de idade. Foi, depois, legitimada não só por escritura antenupcial, mas até pelo subsequente matrimónio com Sebastião da Silva Neves, proprietário da maior rede de diligências de Entre-Douro-e-Minho, da freguesia de Monserrate, de Viana do Castelo, que faleceu, em 26 de Fevereiro de 1879, na mesma localidade, com 54 anos de idade.
Casou, na igreja Paroquial de Santa Maria Maior, de Viana do Castelo, na presença do Bispo eleito do Algarve, Doutor António Ayres de Gouveia, em 10 de Janeiro de 1880, com Abílio Manuel Guerra Junqueiro, que nasceu na freguesia de Ligares, concelho de Freixo de Espada à Cinta, em 15 de Setembro de 1850 e faleceu em Lisboa, em 7 de Julho de 1923. Sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, os seus restos mortais foram trasladados, em Dezembro de 1966, para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.
Tiveram duas filhas, Maria Isabel, nascida em 11 de Novembro de 1880 e Júlia, nascida em 27 de Fevereiro de 1882. Interditada por demência, veio a ser internada no Porto.
Depois do seu casamento, em 1880, com Filomena Augusta, Guerra Junqueiro passa a assinar quase toda a sua poesia com um “F”, de Filomena, ou pelo nome de “Meninha”. Nesse tempo, ainda não tinha aquelas “venerandas barbas hebraicas” conhecidas dos seus retratos. Usava apenas bigode, o que aconteceu até Setembro de 1898.
A família Roças
Pouco sabemos do Hotel Roças, na referida cidade, sito junto à ponte do rio Cávado, na rua do Terreiro (actual rua Duques de Bragança), quem o fundou e quando encerrou, mas sabemos algo mais sobre a família que o explorava.
Manuel José Pereira Roças nasceu na freguesia de Salvador de Roças, concelho de Vieira do Minho e faleceu, em Barcelos, na casa nº 4 da rua do Terreiro (actual Rua Duques de Bragança), em 4 de Fevereiro de 1861, com 60 anos de idade. Foi sepultado na Igreja Matriz de Barcelos, por não haver cemitério público. Casou com Teresa Rosa da Silva Roças, que nasceu na freguesia de S. Salvador da Portela das Cabras (actual freguesia de Anais), concelho de Ponte de Lima, e faleceu, inesperadamente, na sua residência, na rua do Terreiro, pelas 4 horas da tarde, do dia 1 de Novembro de 1882, com 72 anos de idade.
Uma das filhas daqueles, Isabel Cândida Roças Neves, que casou com Sebastião da Silva Neves, tiveram três filhos: Filomena Augusta da Silva Neves Guerra Junqueiro, Maria das Dores da Silva Neves Monteiro, e Sebastião da Silva Neves, primos direitos de Maria Adelaide, avó paterna do escritor vianense António Manuel Couto Viana. Residiu em Viana do Castelo, na rua de São Sebastião, com a tia materna, Isabel Cândida, casada com Sebastião das Neves. Mestra-régia, muito embora nunca chegasse a exercer, casou, em 5 de Julho de 1884, na Igreja Paroquial de Santa Maria Maior – Viana do Castelo, com Manuel Martins Couto Viana, comerciante, dono do “Bazar Couto Viana”, na rua da Picota, transferindo-se, depois, para a Praça da Rainha (actual Praça da República), passando a designar-se Bazar Couto Viana-Nova Havaneza.
Victor Pinho
Investigador, bibliotecário aposentado do Município de Barcelos