Até onde caminharemos

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Até há bem pouco tempo ninguém imaginaria um mundo tão dramaticamente alterado como este que estamos a viver, com influência tão decisiva na nossa forma de estar. Nem tão pouco se previa que a economia mundial, como agora ajuizamos, pode vir a sofrer um forte revés, com profundas consequências da mais variada ordem na vida de quem habita o planeta.

Ninguém está em condições de perspetivar como e para onde deveremos caminhar. Os colunistas, até mesmo os especializados nas áreas do conhecimento, não arriscam prognósticos ou, como acontece tantas vezes, fazem abordagens que contradizem decorrido pouco tempo. Quem lê a imprensa, mesmo a especializada, constata facilmente que a incoerência e a contradição é que predominam.

Escreve-se e diz-se que tudo tem que ser repensado, que depois desta crise nada será como antes e que, com respeito pelo universo, novas práticas e novas formas de viver têm de ser encaradas. Pessoalmente tenho dúvidas que assim seja. Infelizmente, o Ser Humano esquece facilmente cada crise e cada cataclismo que vão acontecendo, adotando as rotinas habituais sempre que julga o mal debelado, descuidando a humanidade e as formas como esta deve ser tratada.

É um facto que o progresso é fundamental para a melhoria das condições de vida de milhões de pessoas, e sabemos como nas últimas décadas se retirou boa parte da população mundial da miséria endémica. No entanto, o progresso não pode ser conseguido à custa da degradação da Terra. E não pode ser esquecido que o crescimento das economias resulta sempre numa distribuição desigual entre quem tem e não tem. Segundo um relatório da OXFAM, a organização que luta contra a pobreza no mundo, a diferença entre ricos e pobres não para de aumentar. Em 2018, os 26 mais ricos do mundo dispunham dos mesmos recursos com que contavam 3,8 mil milhões das pessoas que fazem parte da metade mais pobre da população mundial.

Sem destruir os ecossistemas que contribuem para a manutenção da natureza, aceita-se e reivindica-se o desenvolvimento, mas as vantagens que advêm deste devem ter como objetivo principal o combate à carência. A miséria, com concentração de grandes núcleos populacionais em espaços confinados, onde tudo falta, a começar na habitação com saneamento básico e alimentação mínima, é um dos maiores fatores da propagação de doenças de todo o tipo, que rapidamente se tornam epidémicas a boa parte do mundo. A ciência vai-as contendo, como há de conter mais esta, mas é bom saber até quando.
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