Autoaceitação

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O conceito de beleza tem acompanhado a humanidade e as suas mudanças, desde sempre, despertando adesões e preconceitos.

A estética é algo incontornável e não necessariamente mau. Daí dizermos que uma sociedade sem qualquer sentido estético é irrealista. Porém, a força que os padrões de beleza, muitas vezes inalcançáveis ou dolorosos, exerce sobre a sua população é, em alguns, uma fonte de caos psicológico e de angústia. Segundo esta visão, parece-me que temos verdadeiramente de discernir entre “gosto/não gosto” e “fui ensinada a gostar/não gostar”.

Somos massacrados pela tirania de uma espécie de sentido estético coletivo único da sociedade onde vivemos e somos rotulados por estas escolhas estéticas, sendo este fenómeno muito mais vivido pela mulher do que pelo homem, pela criação óbvia de um estereótipo do seu corpo através da indústria pornográfica, e da “máquina” de promoção de uma sociedade de consumo da manutenção que lhe atribuiu a silhueta perfeita, tão ao jeitinho da indústria da moda. Que angústias e tormentos viverão as que não cumprem os requisitos do figurino? Não pretendendo fazer a simples refutação da tirania do estereótipo, por achar que ser do contra não é o único modo de fazer emergir a emancipação, até porque a verdadeira emancipação passa pela liberdade total sobre o próprio corpo. Parece-me que nos devemos interpelar sobre o porquê desta submissão ao padrão do sentido estético: se realmente é alcançar a “pele” onde mais se sentem confortáveis, ou a aceitação de outros; sendo assim, porque negligenciamos a nossa expressividade sobre o nosso corpo pela aceitação de outros que não o nosso eu?

O partido que tomo é o da capacidade individual de nos podermos expressar sem qualquer tipo de entraves e, ainda assim, conquistar a integração noutras realidades mais usuais.
O salto que pretendo tentar expressar resume-se pela aceitação de cada um como realmente é, promovendo a autoaceitação. Não se tem de achar tudo bonito, elegante ou tendência, mas talvez reparar que não é só o meu bonito, o meu elegante, ou a minha tendência.

Ana Branco

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