Bem vindos às Festas da modernidade

Bernardo Barbosa
Bernardo Barbosa

Todos os anos, a Romaria da Agonia é aguardada com ansiedade, tanto pelos vianenses como pelos alto-minhotos, especialmente, os emigrantes que não se cansam desta agitação invulgar que, por esta altura, vem quebrar a quietude letárgica em que a cidade e o Alto Minho se remetem antes e depois de Agosto. Já na segunda semana, a cidade começava a fervilhar de “esgotada”, cheia de forasteiros surpreendidos por não entenderem bem a desusada movimentação que o ciclismo da Volta a Portugal, lhe concedeu “em cheio”.

Desde que me conheço, a Romaria tem vindo a manter a sua continuidade centenária que a modernidade tenta descaracterizar. É o caso da enfadonha e cansativa praga automóvel que, ocupando tudo quanto é espaço, só deixa livres os galhos das árvores!… O automóvel veio substituir “os comboios especiais” de outrora, carregados de milhares de forasteiros vindos das vizinhanças e, até, da capital; resistem os excursionistas, “de garrafão e merenda”, que vão aguentando a peregrina tradição. Enfim, obra de “tempos ecológicos” que, de tão assépticos, mais tarde deles serão vítimas!…

Nem todas as modernidades contribuem negativamente. É o caso da electrónica, desde há uns anos introduzida na sincronização do lançamento dos fogos de artifício. Lembram-se, alguns, dos apitos de comando para a cachoeira!? Um tempo dos saudosos Silvas e Castos (do lá vem um foguete), onde a música de fundo era dada pelos bombos e gaitas dos Zés P’reiras, em barcaças no rio; hoje a modernidade do ambiente musical não deixa o tipo “coca – cola” que vai escapando por entre o repetitivo “abemos d’ir a biana”!…

Não há dúvida que a Romaria tem vindo a ganhar e a reforçar-se na sua expressão etnográfica — no que respeita à divulgação e preservação da rica beleza do traje —, nas paradas da Mordomia à Festa do Traje; nos desfiles “Vamos para a Festival”, que descem a Avenida a cantar, acompanhados por concertinas; nos festivais folclóricos exibidos no relvado da Marina; nos cantares populares organizados em grupos de rusgas e nas cantigas ao desafio que, cada vez mais, aparecem e, este ano, se revêem no espectáculo de “Augusto Canário e Amigos”; no garbo ou chieira com que os vianenses envergam suas camisas de linho bordadas e se passeiam pela ruas… cujo esplendor se inicia, nas quatro noites com maravilhosos fogos de artifício, às 24 horas de cada dia. Tudo isto, e muito mais, é a Romaria das romarias.

Não esquecendo o suporte religioso dado à romaria, pelas duas procissões, razão de ser das festas: a clássica, pelas ruas da cidade; e a ao mar, à foz do Lima e, depois, Rio acima até à Avenida, antes passando pelas ruas da nossa Ribeira, atapetadas a flores, cujos tapetes são feitos nas vésperas, à noite… “só visto”!…

Finalmente, não podemos deixar passar, nas últimas décadas da Romaria, a memória dos grandes fazedores destas festas ao esquecimento — Amadeu Costa (f. 1999), José Luís Oliveira (Ff 2014) e Francisco Sampaio —, sem a merecedora homenagem de todos nós, apoiados pelo pessoal voluntário da VianaFestas.

Agradecimentos:
Ao escultor, Manuel Rocha por nos ter disponibilizado as fotos de seu recente livro — “Viana, um outro olhar” (Ed. Fund. Cx. Agrícola Noroeste, 2018) do capítulo relativo às Festas a que ilustra, especialmente, a capa desta edição.
Ao pintor Juvenal Ramos, São Paulo (f. 2012), pela síntese que faz da Romaria nesse seu belo quadro, na última página e, pela segunda vez, trazido à estampa. Só ele seria capaz de merecer a homenagem desta republicação.

Ao Dr. Euclides Rios, nosso amigo e especial colaborador, grande ganhador dos “Concurso de Quadras Populares d’Agonia”, o agradecimento e pedido de desculpas por não podermos satisfazer a publicação de um conjunto poético de quadras e sonetos alegóricos às Festas. Não dispomos de espaço bastante devido a compromissos anteriormente assumidos, mas — “havendo mais marés que marinheiros” e sabendo o Dr. Euclides habituado a nadar em “mares encapelados” a que os concursos da quadras normalmente nos envolvem —, não faltarão oportunidades para a sua divulgação.

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.